FuncionAL - Com vocês, Wladimir


17/08/2018 16:34 | Entrevista | Marina Mendes - Fotos: Carol Jacob

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Wladimir Santos<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2018/fg226477.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Wladimir Santos<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2018/fg226478.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Wladimir Santos<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2018/fg226479.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Trabalho, trabalho e trabalho: Wladimir Hamilton Calheira Santos conta que aprendeu com os pais a se dedicar intensamente à atividade profissional. Ele chegou na Alesp há 33 anos, depois de aprovado no concurso público, e ainda guarda na memória o primeiro dia: 20 de maio de 1985.

A primeira função foi a de encarregado do serviço de telex, "o avô do e-mail", explica. "Era como uma máquina de escrever, só que você digitava em um terminal e saía no outro. As mensagens eram uma coisa muito precária, primitiva mesmo." No posto, Wladimir devia receber informativos escritos pelos gabinetes dos deputados, datilografá-los e enviá-los por meio do equipamento.

A demanda era enorme. "Havia 84 deputados e ocorriam muitos eventos", lembra. "Recebíamos material de todos eles umas três vezes por dia. Como fiquei um bom tempo sozinho, acabei tendo de receber, cortar, envelopar, entregar e depois pegar o recibo de cada material. Era tudo centralizado em mim, um fluxo muito grande de informações. Hoje, o deputado pode mandar material para a região dele diretamente do gabinete."

Tudo isso em tempos muito mais analógicos. "Antes era na fichinha, controlado no papel. Até a Ordem do Dia, que é a pauta dos projetos que serão discutidos e poderão ser votados em uma sessão, era montada à mão"

Trajetória

Wladimir começou a trabalhar cedo, aos 16 anos, em uma companhia de atendimento de planos de saúde para empresas. Em pouco tempo, tornou-se encarregado dos office-boys. Sua próxima ocupação foi na Alesp.

Tornar-se funcionário público tão cedo, porém, não foi um baque. "No setor em que entrei tinha muita gente bacana, logo me adaptei", conta. "Sempre foi legal, não houve choque, só era muito trabalho. Trabalhávamos até a madrugada com frequência, porque podiam prorrogar as sessões ordinárias e as duas extras, e entre elas havia uma hora de intervalo."

Priorizar a profissão, entretanto, acabou fazendo com que se afastasse dos estudos. A aprovação no concurso público veio logo depois do término do antigo colegial, hoje ensino médio, e adentrar madrugadas trabalhando o impediu de seguir para a faculdade. Pouco tempo depois, em 1988, a Constituinte agitou ainda mais a rotina da Assembleia Legislativa. Só mais tarde, quando o filho chegou ao ensino médio, Wladimir decidiu voltar para a sala de aula. "Quis servir de exemplo para ele", diz. Escolheu o curso de recursos humanos, que tem duração de dois anos. "Quando ele foi aprovado no vestibular, eu já tinha completado o curso."

Nessas mais de três décadas de Alesp, atuou em três setores: no extinto telex, no sistema de som e, por fim, no painel eletrônico - que exibe durante as sessões o resultado das votações e o tempo para o discurso dos parlamentares, entre outras informações.

Além do trabalho

Wladimir não gosta de ficar parado, mesmo nos momentos de folga. Aos 55 anos, aposta na caminhada e em "um pouquinho" de musculação para não ficar fora de forma. Quando mais novo, as atividades eram muito mais diversas. "Andava de bicicleta, ia para a [rodovia dos] Bandeirantes e chegava a fazer 54 quilômetros pedalando", orgulha-se.

As artes marciais estão entre seus hobbies favoritos. "Fiz um pouquinho de kung fu, karatê, muay thai, conhecido como boxe tailandês", enumera. Uma delas o ajudou em uma situação limite. "Também treinei hapkidô, uma arte marcial coreana especializada em defesa pessoal. Certa vez, usei-a contra assaltantes."

Outro feito que Wladimir gosta de contar é a ocasião na qual saltou de paraquedas. O que parece um desafio insuperável para muitos, para ele não foi lá grande coisa. "Achei chato, um pouquinho tedioso", gaba-se. "Pulei tranquilo e não fiquei nervoso. O cara falou para eu guiar, puxei as cordinhas para lá e para cá... Tenho mais medo do barco viking em parquinho infantil [risos]."

Atividades mais pacatas também o agradam. "Gostava muito de acampar, ia para o meio do mato, passava uns dias por lá", relata. "Aquelas aventuras durante a cheia do rio, que nos obrigava a passar uma corda para atravessar as pessoas para a outra margem, fazer café debaixo de chuva..."

Fã de esportes e de vê-los ao vivo, revela fugir à regra da maioria dos brasileiros: "Assisti a mais jogos de rugby em estádios do que de futebol".

O que é a Alesp para Wladimir?

Atuando em uma casa política, Wladimir procurou traçar a carreira da forma mais isenta possível. "Nunca me envolvi com a política e prefiro não me envolver, não é do meu estilo", diz. "Além disso, gostando ou não de um projeto de lei, você terá de trabalhar da mesma forma, então não adianta deixar-se influenciar. Nós procuramos manter um ambiente bacana, só isso."

Ao longo das décadas, viu muitas mudanças em diversos aspectos da Alesp. O abandono do telex, por sinal, foi uma delas. Contudo, o que mais lhe chamou a atenção durante o período foi a mudança na cultura da gestão da Casa. "O estilo das chefias era diferente, era muito mais personalista. Hoje existe uma agilidade diferente. É estilo da época mesmo."

O período que viveu na Alesp fez com que Wladimir criasse um grande carinho pelo lugar. Em certos momentos da carreira, esteve mais no parlamento do que em casa. "Durante um tempo, muitas sessões solenes eram realizadas, em algumas ocasiões, até mais de uma por dia", afirma. "Lembro que certa vez me dei conta de que havia convivido mais com um maestro da Banda da Polícia Militar, que tocava nessas sessões e de quem não me recordo o nome, do que com a minha esposa."

"A Assembleia acaba sendo a vida da gente", diz. "Você acaba ficando muito mais tempo aqui do que em qualquer lugar." E se a Alesp termina por virar a segunda casa de muitos funcionários, a consequência é passar a conviver com colegas que se tornam quase familiares. "Todo mundo fala, e eu concordo, que o melhor da Assembleia são os colegas."

"A gente fica trinta anos aqui, joga futebol, conhece os filhos uns dos outros", conta.

Caso o regramento seja mantido, Wladimir já poderá aposentar-se em janeiro do próximo ano. Essa hipótese, porém, está longe de seus planos. "Temos essa questão do ambiente, de ter amigos bacanas, de construir alguma coisa juntos. Daí também vem o meu medo de me aposentar", diz. "Reconheço que não estou muito a fim, não [risos]."


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