São Paulo - 460 anos - Parte 2


21/01/2014 17:15 | Antônio Sérgio Ribeiro*

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José de Anchieta<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-01-2014/fg158090.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Imagem ilustrativa da 1ª missa realizada em Piratininga<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-01-2014/fg158091.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Gaspar Lourenço<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-01-2014/fg158092.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Fundação de São Paulo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-01-2014/fg158093.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Colégio de São Paulo de Piratininga<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-01-2014/fg158094.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Jesuíta catequizando índios<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-01-2014/fg158095.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Símbolo da Companhia de Jesus<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-01-2014/fg158096.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O Diário do Poder Legislativo prossegue com matéria sobre os 460 anos de fundação da cidade de São Paulo, que serão completados no próximo dia 25 de janeiro.

José de Anchieta

Nascido em Tenerife no Arquipélago das Canárias (Espanha) em 19/3/1534, e falecido em 9/6/1597, em Reritiba (hoje município de Anchieta), Espírito Santo.

Irmão e depois padre jesuíta, José de Anchieta ingressou na Companhia de Jesus em 1/5/1551. Depois de um grave acidente, quando uma pesada escada caiu sobre suas costas, afetando sua coluna e deformando-o permanentemente, foi aconselhado a viajar para o Brasil, tendo embarcado em 8/5/1553, juntamente com mais seis missionários, chefiado pelo padre Luiz da Grã, na frota que transportava o novo governador-geral D. Duarte da Costa. Chegou a Bahia em 13 de julho e lá pouco se demorou, seguindo, com outros, para São Vicente, onde desembarcou as vésperas do Natal. Aguardava-os o padre Manoel de Nóbrega, então empenhado na construção de um colégio no alto da serra em Piratininga.

Em princípios de janeiro, para a execução da mesma, enviou ao planalto 13 religiosos, entre os quais o irmão Anchieta. Na manhã de 25/1/1554, por designação de Nóbrega, o padre Manoel de Paiva celebrou, a primeira missa, na inauguração do Colégio de São Paulo de Piratininga. José de Anchieta, então um noviço de 19 anos, participou da missa como sacristão.

Na humilde choupana onde se instalara ao mesmo tempo escola e casa dos jesuítas, Anchieta foi o primeiro mestre de latim, por indicação do padre Nóbrega e também seu amanuense; ensinando os seus colegas noviços da Companhia de Jesus e somente depois na catequese e das primeiras letras aos aborígines, além dos filhos dos colonos e aos noviços. Dos índios aprendia a língua tupi, da qual, após seis meses, compôs uma gramática, impressa em Coimbra, Portugal, em 1595, sob o titulo Arte da Gramática da Língua Mais Usada na Costa do Brasil.

Exerceu também as funções de enfermeiro, no lugar do irmão Gregório Serrão e como barbeiro. Curou muitos índios que estavam à beira de morte, vítimas de enfermidades que assolavam a povoação. A seguir escreveu os Diálogos da Fé, em tupi, método novo para a aplicação da doutrina.

Em 1555, voltou a São Vicente e, em 1556, viajando o padre Manoel de Nóbrega para a Bahia, deixou-lhe a cargo escrever cartas de edificação e de notícias para a Companhia de Jesus na Europa. Após seis anos de permanência em São Vicente, Anchieta enviou ao Prepósito Geral Diego Laynes em Roma, em 31/5/1560, um extraordinário estudo sobre a fauna e a flora, o que lhe fora dado ver na "parte do Brasil que se chama São Vicente".

Em 11/4/1563, acompanhou o padre Nóbrega em sua jornada pacificadora junto aos índios Tamoios de Iperoig (entre São Sebastião e Ubatuba), ficando na desejada paz. Durante sua estada no local, entre ameaças, lutas e tentações, compôs 5.786 versos, que formam o célebre Poema em Louvor da Virgem Nossa Senhora. Posteriormente embarcou para o Rio de Janeiro e, a seguir, para a Bahia onde, em 1566, foram-lhe conferidas as ordens sacras (padre) pelo bispo D. Pedro Leitão. Regressando para o sul, auxiliou Estácio de Sá na expulsão dos franceses do Rio de Janeiro. Permanecendo até 1569, quando foi nomeado reitor do Colégio de São Vicente, e das casas anexas, missão que se prolongou até 1578, ano em que foi elevado a Provincial do Brasil, o mais importante cargo entre os jesuítas.

Na Bahia desenvolveu grande atividade, fundou o Colégio dos Jesuítas e, no Rio de Janeiro, a igreja e o Hospital da Misericórdia. Ao iniciar-se o ano de 1586, sentindo-se muito enfermo, entregou nas mãos do visitador Cristóvão Gouveia o cargo de provincial. Em 1593, recebeu ordens para que assumisse a direção da Casa de Espírito Santo, a que se subordinavam as aldeias de Reritiba, Guarapari, São João e Reis Magos.

Faleceu em Reritiba, hoje Anchieta, no Espírito Santo. Seu corpo foi transladado para Vitória onde foi sepultado. Cognominado Apóstolo do Novo Mundo, são-lhe atribuídos inúmeros milagres. Escreveu grande número de hinos e canções sacras para os meninos indígenas, diversos autos, nas línguas tupi, castelhana e portuguesa, escreveu a Vida dos Religiosos da Companhia dos Missionários do Brasil e uma Dissertação sobre a História Natural do Brasil, o que lhe valeu ser considerado o fundador da Literatura Brasileira. Foi beatificado solenemente no Vaticano pelo Papa João Paulo 2º no dia 22/6/1980, e a igreja existente no Pátio do Colégio, em São Paulo, é em sua homenagem.

Gaspar Lourenço

Nascido em Vila Real - Portugal em 1529, e falecido na Bahia em 1581.

Irmão e depois padre jesuíta, ingressou na Companhia de Jesus em 1553. Estudante e intérprete, aprendeu a língua tupi. Participou em 25/1/1554, da fundação do Colégio de São Paulo de Piratininga. Em 1560, acompanhou juntamente com o padre Fernão Luís, por determinação do Provincial Luís da Grã, os índios de Piratininga que foram dar combate aos franceses no Rio de Janeiro, por solicitação de ajuda do governador-geral Mem de Sá. Em 1575, com o padre João Salônio, foi o responsável pela primeira tentativa de colonização em Sergipe, quando percorreram algumas aldeias, notadamente a dos índios Kiriris na confluência dos rios Piauí e Jacaré que tinham o comando do cacique Surubi. Por onde passaram, fundaram missões e ergueram igrejas dedicadas a São Tomé, Santo Inácio e a São Paulo, esta última provavelmente em território que hoje pertence ao município de Aracajú, localizadas em terras dominadas pelos caciques tupinambás Surubi, Serigi e Aperipê. A principio os jesuítas conseguiram atrair os índios para a catequese, mas os soldados que vieram proteger os religiosos começaram a praticar violência nas aldeias, roubando produtos e raptando as mulheres. Os indígenas, revoltados, expulsaram os padres e os soldados de suas aldeias. Posteriormente o padre Gaspar Lourenço foi transferido para a Bahia, onde veio a falecer.

Manoel de Chaves

Nascido em Porto (Portugal) em 1514 e falecido em 19/1/1590.

Irmão e depois padre jesuíta. Já estava no Brasil antes da vinda dos primeiros jesuítas. No ano de 1549 foi para São Vicente, ingressando na Companhia de Jesus no ano seguinte. Em companhia do padre Manoel de Nóbrega e outros religiosos, subiu a serra até o planalto, participando em 29/8/1553, da fundação da aldeia de Piratininga. Em 25/1/1554, estava presente na fundação do colégio de São Paulo de Piratininga. Por ter aprendido, por convivência a língua tupi, era em 1557, na opinião do padre Manoel de Nóbrega, o que melhor sabia a língua dos índios. Depois de ordenado, foi coadjutor espiritual.

Antonio Rodrigues

Nascido em Lisboa (Portugal), em 1516, e falecido em 19/1/1568, no Rio de Janeiro.

Irmão e, depois, padre jesuíta, Antonio Rodrigues era órfão, assentou praça e com apenas 19 anos embarcou na Espanha, em 1535, com destino ao rio da Prata, na armada de D. Pedro de Mendoza. Tomou parte na primeira fundação de Buenos Aires, com Mendoza, em 1536; e na de Assunção (Paraguai), com João de Salazar, em 1537.

Com Fernando Ribera foi do Mato Grosso até perto do Maranhão e Amazonas. Acompanhou Domingos de Irala através do Chaco, no Paraguai, aprendeu a língua guarani. Como militar conviveu durante algum tempo com os índios carijós, aprendendo a língua tupi e os costumes. Em 1553, foi do Paraguai para São Vicente a pé, onde foi admitido na Companhia de Jesus, como noviço. Subiu a serra e converteu ao cristianismo muitos índios, entre os quais conquistou grande prestigio devido ao conhecimento que tinha da língua tupi-guarani.

Acompanhou o padre Manoel de Nóbrega na fundação da Aldeia de Piratininga, em 29/8/1553. E foi com ele para Maniçoba (aldeia que se situava às margens do rio Anhembi, hoje Tietê, na região de Itu, e que teve curta existência). Foi o primeiro mestre-escola, por determinação do próprio padre Nóbrega, quando da fundação em 25/1/1554 do colégio de São Paulo de Piratininga para os meninos índios, aos quais ensinava na própria língua, e aprendiam a ler, escrever, cantar e tocar instrumentos.

Era cantor e músico. Em São Paulo os curumins aprenderam a tocar flauta. Quando algum dos seus alunos não ia a aula por preguiça, mandava os outros ir buscá-lo, e o traziam preso para a alegria dos demais e a satisfação dos pais. Intérprete de Nóbrega, pois sabia a língua dos indígenas, ao mesmo tempo estudava e aperfeiçoava o latim.

Posteriormente, em 1556, esteve no sertão chegando até o Peru e depois, indo até o Paraguai, de onde retornou em 1557. Foi com Nóbrega para a Bahia, onde também ministrou aulas. Segundo carta do governador-geral Mem de Sá para o rei de Portugal D. João 4º, datada de 31/3/1560, havia escolas de 360 moços que sabiam ler e escrever, graças ao trabalho de Antonio Rodrigues.

Foi ordenado padre em 1562, na Bahia. Acompanhou o padre Manoel de Nóbrega quando se transferiu para o Rio de Janeiro, onde ajudou a fundar o Colégio Jesuíta e foi o responsável pela Aldeia de Arariboia, chefe indígena dos timiminós e fundador da cidade de Niterói.

Diogo Jácome

Nascido em Portugal e falecido em 10/4/1565, no Espírito Santo.

Irmão leigo e depois padre jesuíta, Diogo Jácome entrou para a Companhia de Jesus em 12/11/1548, sendo coadjutor espiritual quando veio para o Brasil com o padre Manoel de Nóbrega em 1549, na comitiva do governador-geral Tomé de Souza, em companhia de mais quatro religiosos. Estudante aprendeu a língua tupi. Ainda nesse ano é enviado para Ilhéus e Porto Seguro, com o padre Leonardo Nunes, sendo o seu primeiro companheiro na catequese dos indígenas. Veio para São Vicente, subindo com este a serra. Participou, em 25/1/1554, da fundação do Colégio de São Paulo de Piratininga. Aprendeu a arte de torneiro, tornou-se mestre. Fazia coroas e rosários de madeira, com o auxilio de um torno de pé, por ele mesmo fabricado. Introduziu o serviço de obras manuais entre os companheiros religiosos e entre os habitantes onde servia; era também pedreiro e sapateiro.

Acompanhou o padre Leonardo Nunes em viagem missionária para Ilhéus e Porto Seguro, retornando a capitania de São Vicente em 1557. Foi ordenado padre na Bahia em 1562. No ano seguinte, residiu em Ilhéus. No ano de 1564, acompanhou o padre Manoel de Paiva, nomeado Superior dos Jesuítas no Espírito Santo, sendo designado substituto do padre Fabiano de Lucena, que se encontrava enfermo, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, de Serra, incumbindo-se também de visitar as aldeias, próximas, inclusive a Aldeia Velha (Santa Cruz), assumindo o trabalho de catequese e evangelização. Nesse mesmo ano surge uma epidemia de varíola (então chamada de doença das bexigas), que quase devastou a Capitania; exerceu as funções de sangrador, cirurgião, médico, pároco e de coveiro.

Com o padre Pedro Gonçalves (este faleceria em novembro de 1564), cuidou das vítimas, e por segurança transferiram a aldeia de local. Consumido pelo exaustivo trabalho, faleceu na Casa Colegial do Espírito Santo, vítima de impaludismo.

Escreveu a Carta do Brasil em 1551, em que trata dos costumes dos índios, e trabalhos dos padres da Companhia na conversão; o manuscrito foi dado à casa da professa de São Roque; e uma versão italiana desta Carta foi publicada em Veneza, no ano de 1559.

Gonçalo de Oliveira

Nascido em Aveiro (Portugal), em 1534, e falecido em 1620.

Irmão e depois padre jesuíta, Gonçalo Oliveira, enquanto estudante aprendeu a língua tupi, e tornou-se intérprete. Era bem-quisto pelos indígenas pela dedicação, seu interesse pela língua e por sua cultura. Em missão de catequese, visitava diversas aldeias, fazendo longas caminhadas, quando ensinava e batizava os silvícolas. Chegou ao Brasil antes dos jesuítas, entrando para ordem em São Vicente. Participou, em 25/1/1554, da fundação do Colégio de São Paulo de Piratininga. Intervinha sempre nas questões entre os portugueses e os índios, ouvindo-os e resolvendo problemas, evitando conflitos entre as partes, o que acabou ocorrendo quando de sua única ausência do planalto de Piratininga. Ao retornar, sua presença bastou para cessar de imediato o embate. Participou ativamente na luta pela expulsão dos franceses no Rio de Janeiro, em 1565. Companheiro fiel do padre Manoel de Nóbrega, foi seu confessor e lhe deu a Santa Unção quando expirava em 18/10/1570, no Colégio do Rio de Janeiro, do qual foi procurador no ano de 1573.

*Antônio Sérgio Ribeiro, advogado e pesquisador. É funcionário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

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