Destruir a natureza: um péssimo negócio


19/12/2007 19:30

Compartilhar:

Clique para ver a imagem " alt="Hugo Penteado: " Temos de negociar com a Terra, não para salvá-la, mas para nos salvar" Clique para ver a imagem ">

Imagine uma cena: um carro trafega por uma estrada e é interceptado por um nevoeiro muito denso. Nesse mesmo momento, o carro perde o freio. À frente há um precipício, mas o condutor do veículo não sabe a que distância está nem a profundidade que tem esse abismo. O cenário, que caberia muito bem em um filme de horror, serviu de analogia com a atual condição da humanidade em relação ao ecossistema feita pelo economista, que atua no sistema financeiro, Hugo Penteado. Segundo o economista, temos de negociar com a Terra, não para salvá-la, mas para nos salvar.

Penteado, a convite da liderança do Partido Verde na Assembléia, proferiu, na noite desta terça-feira, 18/12, a palestra "Economia ecológica e sustentabilidade", lembrando que a preocupação com o meio ambiente deixou de ser a preocupação de ambientalistas fanáticos e passou a ser a da comunidade científica do planeta.

Crescimento econômico e bem-estar social

Com vasto conhecimento em ecologia e meio ambiente, o autor do livro Economia " uma nova abordagem, publicado em 2003, fez uma análise das teorias econômicas cujas bases são totalmente separadas do meio ambiente e excluem as variáveis sociais e ambientais. Ele demonstrou como o sistema econômico está diretamente ligado à natureza e porque é urgente a quebra do paradigma de que o crescimento econômico gera o bem-estar social. O economista explicou de que forma a destruição da natureza se torna um problema financeiro e as conseqüências de os economistas ignorarem os conhecimentos da ciência, da paleontologia, da história, da sociologia e da ecologia. "Para a teoria econômica, em todas as suas vertentes, o sistema econômico é considerado neutro para o meio ambiente, o que não é verdade".

Penteado demonstrou como o crescimento econômico está em total descompasso com o conhecimento adquirido pela humanidade nas últimas décadas: "o planeta passou milhares de anos acumulando materiais embaixo da terra. A nossa vida aqui só foi possível por causa do acúmulo desse material. Hoje, estamos fazendo um processo reverso, atirando na superfície da terra uma série de materiais (mercúrio, dióxido de carbono, ouro) com os quais o seu processo geológico de bilhões de anos não sabe como lidar. O sistema planetário é finito, regenerativo e circular".

Segundo Penteado, um agravante é a total dependência humana da natureza e o mito de que o ser humano é capaz de produzir alguma coisa. "Na verdade, ele não produz nada " nem matéria, nem energia. É simplesmente um transformador dos recursos naturais", o que entrelaça o sistema econômico e o meio ambiente. Outro mito, que segundo Penteado é responsável por essa situação, é a economia do descarte: "vivemos o mito do jogar fora. A gente acha que consegue jogar fora alguma coisa, mas a natureza absorve tudo. Nós transformamos o planeta numa imensa lata de lixo. E o pior, conosco dentro".

Ainda há tempo

O economista, todavia, acredita que ainda há tempo para se fazerem as mudanças necessárias e entende que o ser humano é o único ser vivo capaz de perceber a realidade e o que está em volta dele e vai concluir que a rota atual vai levá-lo para o abismo. De acordo com Penteado, o primeiro passo já surgiu, que é a discussão sobre o aquecimento global. O problema é que as estatísticas sobre meio ambiente hoje em dia dizem o seguinte: os países que mais destroem o meio ambiente e a biodiversidade são aqueles em desenvolvimento e os atrasados, e o pensamento é desenvolver os países pobres, imaginando que estará tudo resolvido. Segundo ele, os países ricos não destroem nada porque não têm mais nada para destruir. A própria divulgação dos danos ambientais, de acordo com Penteado, está errada. Não é a destruição da margem que importa e, sim, a destruição acumulada. "O planeta é um estoque. Não temos fluxo de planeta. E isso é muito sério, porque evita que se faça uma crítica ao modelo de desenvolvimento. Não trazemos à tona a necessidade de pegar todas as tecnologias que já foram inventadas para minimizar os impactos ambientais. E os economistas estão extremamente confortáveis com a visão deles que é dominante", assevera.

Estiveram presentes ao encontro o presidente estadual do PV, José Luiz de França Penna, o presidente municipal do partido, em São Paulo, Carlos Galeão Camacho, e o deputado estadual verde Reinaldo Alguz.

alesp