Cartografia: importante contribuição ao estudo da formação histórica brasileira

Museu de Arte do Parlamento de São Paulo
23/10/2006 16:52

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<i>América do Sul</i>, cartografia de C. F. Weiland, de Weimar, 1834<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/mapa6205-ze.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Dominique Edouard Baechler<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/M-Cartografia-Dominique Edouard Baechler.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> <i>Carte d"Amerique</i>, de Guillaume de L"Isle, Paris, 1822, ano da proclamação da Independência do Brasil<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/M-Cartografia-esta carta elabora por guillaume de l isle.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A cartografia é arte, pois subordina os princípios fundamentais do processo cartográfico às leis da estética. Os mapas geográficos, os atlas, as cartas náuticas, as plantas, os desenhos e os panoramas constituem importante contribuição ao estudo da formação da história do Brasil e do território nacional.

Graças ao denodo de cartógrafos, engenheiros, desenhistas, topógrafos e navegantes, sem falarmos dos viajantes que aportaram na Terra de Santa Cruz, todos verdadeiros artistas pesquisadores, o Brasil de hoje pode melhor conhecer as rotas marítimas utilizadas pelos navegadores europeus, as utopias dos holandeses e dos franceses no Nordeste, a descoberta da Amazônia, o desbravamento dos bandeirantes, os roteiros do ouro pelas Minas Gerais e o traçado de nossos limites fronteiriços.

Isa Adonias, a dedicada pesquisadora e organizadora da maravilhosa Mapoteca do Itamarati, afirma que "a história da cartografia é tão antiga que não se torna possível determinar as suas origens. Supõe-se que a humanidade tenha expressado seus conhecimentos geográficos através de mapas muito antes do aparecimento da escrita e que sua feitura inclui-se entre os tipos mais antigos da arte gráfica, comum a todas as culturas primitivas".

Alexander von Humboldt afirma categórico que o nome Brasil, aplicado para denominar uma madeira utilizada para tingir, teve sua trajetória iniciada " embora com variações lingüísticas " no começo do primeiro milênio de Sumatra ao Novo Mundo. Assim, o nome de nosso país aparece em importantes mapas da época medieval denominando uma misteriosa ilha, entre as muitas existentes no chamado Mar Tenebroso. O que se conclui que o nome é anterior ao próprio país.

Vale salientar que exatamente na Idade Média a cartografia teve influências místicas onde tiveram presença importante os elementos fantásticos, bíblicos e religiosos. Dizem os estudiosos que a cartografia se aproximou da realidade com a influência dos cruzados e as narrações dos viajantes de então.

Os mapas dessa época exerceram grande fascínio, elaborados que foram sob a influência do cristianismo. Não podemos nos esquecer de que os descobrimentos portugueses tiveram inicialmente seus registros e mapas elaborados por cartógrafos italianos e holandeses. Só mais tarde passaram os lusitanos a elaborar suas próprias cartas náuticas. A partir do século XVI, os portugueses passaram a produzir atlas manuscritos envolvidos com belíssimas iluminuras.

Na obra Imagens da Formação Territorial Brasileira, editada pela Odebrecht, Isa Adonias escreve que os franceses conquistaram o mercado dos mapas a partir do século XVII. "Depois da fase brilhante da escola de Dieppe, a cartografia francesa voltaria a se destacar nos séculos XVII e XVIII, com uma série de nomes ilustres, como os da família Sanson d'Abbeville (Nicolas, o fundador, 1600-67); Adrian e Guillaume; Pierre Duval (1619-83), genro de Nicolas; seu neto Gilles Robert de Vaugondy; e seu bisneto Didier Robert de Vaugondy (1646-1720). Guillaume de L'Isle " ou Delisle (1675-1726) " foi o primeiro geógrafo do rei e Aléxis-Hubert Jaillot (1632-1713) editou a obra geográfica mais importante da época, Le Neptune François (1693), em colaboração com Jean-Dominique Cassini, eminente astrônomo."

Nota-se nos mapas feitos então uma preocupação mais científica. Os elementos decorativos foram reservados apenas às cartelas dos títulos e escalas; e os espaços internos das terras, preenchidos com notas geográficas e esclarecimentos informativos. Não mais se permitiu aos estampadores e decoradores a liberdade de improvisar composições ornamentais, que muitas vezes apenas serviam para disfarçar a insuficiência de informações geográficas.

As cartelas ilustrativas " conhecidas como "cartuches" " que envolvem o nome dos mapas, entretanto, representam e resumem o que seus criadores imaginavam do país, de seus recursos, suas belezas naturais, e constituem hoje objeto de admiração dos exigentes colecionadores.

Os mapas Carte d"Amerique e Süd America, doadas ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo pelo colecionador Dominique Edouard Baechler, expert e crítico de arte, são obras raras e de elevada importância artística e histórica. A primeira foi elaborada por Guillaume de L"Isle (ou Delisle) e Philippe Buache, ambos primeiros geógrafos do rei e pertencentes à Academia de Ciências. Guillaume de L"Isle foi um cartógrafo excepcional, que trabalhou nos reinados de Luís XIV, do regente e de Luís XV. A carta em questão foi revista e aumentada pelo geógrafo Dezauche, e impressa em Paris pelo seu próprio autor, sob o reinado de Luís XVIII, exatamente em 1822, data da proclamação da Independência do Brasil. O segundo mapa é de autoria de C. F. Weiland e foi editada em Weimar, em 1834.

O curador

Dominique Edouard Baechler nasceu em 1949, em Genebra, Suíça, onde se formou em história da arte e ciências políticas na universidade local. Trabalhou durante anos com o professor Pierre Bouffard, diretor conservador do Museu de Arte e de História de Genebra e personalidade de renome internacional.

Essa convivência lhe possibilitou entrar no mundo dos principais museus e galerias européias, bem como em contato com colecionadores e amadores de arte. Muito cedo iniciou sua própria coleção de gravuras e mapas antigos originais, formando assim o núcleo de seu acervo, que contém peças que hoje são - em muitos casos - raras ou impossíveis de encontrar.

Em 1979, transferiu-se para o Brasil, onde, com a colaboração de colecionadores, colegas e experts do mundo inteiro, continua na busca incansável principalmente de peças ligadas às iconografias brasileira e sul-americana, construindo assim um verdadeiro patrimônio histórico e cultural.

Paralelamente às suas atividades de pesquisa, Dominique Edouard Baechler vem desenvolvendo anualmente técnicas inovadoras de apresentação de seus mapas e gravuras, com molduras e passe-partouts elaborados para a conservação de suas obras. A estética muito sofisticada de suas criações tem sido objeto de destaque e encômios dos maiores colecionadores do país.

Além de escrever críticas de arte e ter dado aulas de história da arte na Escola de Sociologia e Política da Universidade de São Paulo (USP), colabora com a Unicef, como conselheiro, na seleção de obras de arte para os cartões de Natal daquela organização da infância e juventude.

Dominique Edouard Baechler é também curador da importante exposição Old Prints, hoje na sua décima quinta edição, que o Club Transatlântico apresenta este ano de 24 de outubro a 30 de novembro em sua sede, à rua José Guerra, 130, na Chácara Santo Antônio. A TV Assembléia estará preparando uma importante emissão sobre a Imagem do Brasil Através da Gravura e da Cartografia, para ser transmitida em sua programação.

alesp