Sob a presidência de Mauro Bragato (PSDB), a Comissão de Relações do Trabalho discutiu nesta quarta-feira, 29/3, a situação dos empregados de duas empresas que, frente a dificuldades financeiras, demitiram grande número de funcionários sem respeitar a legislação trabalhista.Representantes da Associação de Pilotos da Varig participaram da reunião, para denunciar a demissão, em 2002, de 62 pilotos por motivos políticos. Ricardo Lazarini, comandante demitido da empresa, explicou que os primeiros demitidos foram os dirigentes da associação.Élnio Borges, reintegrado à companhia por sentença judicial, explicou que a associação de pilotos divulgou, na época, a notícia de que a empresa estaria iniciando um processo de falência fraudulenta. Além disso, a Fundação Ruben Berta " controladora também de hotéis e fazendas " vinha praticando a demissão de tripulantes para recontratá-los pela subsidiária Rio-Sul, com salários menores.A proposta dos pilotos é utilizar os recursos dos passivos trabalhistas e previdenciários dos funcionários da Varig (superior a R$ 3 bilhões) para adquirir cotas acionárias da empresa, que deverá ser reestruturada com um plano de recuperação judicial. "Dos 62 pilotos demitidos em 2002, 53 já foram reintegrados, com a determinação de indenização pelo tempo em que estiveram afastados. Temos certeza de que todos acabarão sendo reintegrados, o que não sabemos é se a Varig vai durar até lá", explicou Borges.Uma solução proposta pela associação é o reingresso, medida intermediária entre a readmissão (que não indeniza o tempo em que o funcionário esteve afastado) e a reintegração. "Com a readmissão, os pilotos voltarão a voar e a indenização será decidida pela Justiça em outra ocasião."Segundo o piloto Fábio Goldenstein, a situação dos pilotos demitidos é mais grave do que a dos demais trabalhadores, porque, em seis meses, vence a licença do Departamento de Aviação Civil (DAC) para a pilotagem da aeronave para a qual o aeronauta está qualificado. "Como a renovação da licença só pode ser feita com checagem em aeronave da mesma categoria, torna-se impossível para os pilotos demitidos voltarem a se reintegrar ao mercado nacional ou internacional", explicou.Goldenstein afirmou ainda que a demissão dos aeronautas foi feita de forma vexatória, com o envio de suas fotografias aos postos policiais dos aeroportos. Além disso, muitos dos pilotos demitidos não puderam resgatar o fundo de garantia, porque a empresa alegou demissão por justa causa.Os pilotos criticaram ainda a nova lei de falência que prioriza o pagamento de direitos trabalhistas até o limite de 150 salários mínimos, ficando o restante das dívidas com empregados no final da lista de pagamentos prioritários. "Se houver a falência da Varig, é certo que não iremos receber a maior parte do que nos é devido", explicou Goldenstein.Devido à abrangência da Varig no território nacional, a associação de pilotos tem buscado apoio junto a várias entidades políticas, como as assembléias legislativas do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul e a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República.Hamilton Pereira (PT) sugeriu que a comissão realizasse gestão junto ao secretário especial dos Direitos Humanos, Paulo de Tarso Vannuchi, e ao ministro do Trabalho, Luiz Marinho.Nivaldo Santana (PCdoB) lembrou também que a Assembléia paulista já interveio em situações semelhantes com relação às empresas Vasp e Transbrasil. "Em um país de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, o transporte aéreo deve ser tratado como questão de Estado", afirmou, advertindo que, se a Varig deixar de operar, o mercado será ocupado por empresas estrangeiras, uma vez que a TAM e a Gol não têm estrutura para substituir a Varig, empresa ainda responsável por 70% do mercado e quase 100% dos vôos internacionais.Vigilantes demitidosO outro caso tratado na reunião foi o da empresa Pires Serviços de Segurança e Transportes de Valores. Segundo o diretor jurídico do grupo, José Eduardo Mesquita, a empresa vem enfrentando dificuldades financeiras há cerca de dez anos, quando perdeu um importante contrato com o Banco do Brasil. Desde então entrou em crise financeira que atingiu seu auge em 2005. "Há 18 meses, tínhamos 17 mil funcionários. Hoje temos menos de 4 mil", destacou o advogado.O deputado Sebastião Arcanjo (PT) levou a público a denúncia de apropriação indébita feita pelos vigilantes. Segundo eles, os trabalhadores da Pires tiveram recolhida a sua cota-parte referente ao convênio médico, mas os valores nunca foram repassados à empresa de assistência médica, que interrompeu o atendimento. Mesquita rebateu a acusação afirmando que, tecnicamente, "não há apropriação indébita quando não existe o bem apropriado", no caso, os recursos.Para Roberto Felício (PT), tanto a retenção da cota-parte do seguro-saúde como o recolhimento da contribuição ao INSS sem o correspondente repasse à entidade " o que também aconteceu " caracterizam, sim, apropriação indébita. Felício questionou aos gestores da Pires se, antes de serem realizadas as demissões e a interrupção no pagamento de tributos, a empresa tentou obter empréstimos ou vender parte de seu patrimônio.Percival Aracema, diretor comercial da Pires, informou que os imóveis da empresa foram dados em garantia nas renegociações das dívidas com o fisco municipal e federal. "Sem as certidões negativas de débito, não temos como realizar novos contratos", explicou. Quanto às demissões, o administrador explicou que o downsizing (redução de quadro) era medida inevitável. Entretanto, Aracema não teve argumentos para explicar o questionamento do deputado Arcanjo, que indagou por que não foram tomadas medidas para atenuar os efeitos sociais das demissões, como a manutenção dos funcionários com mais de 40 anos ou os que estavam em licença-saúde por doenças laborais.Mauro Bragato pôs em votação a proposta de realizar nova reunião sobre o assunto no prazo de 30 ou 40 dias, quando a empresa e os funcionários poderão chegar a uma composição. Foi acatada ainda a ressalva de Sebastião Arcanjo de que, nesse ínterim, os questionamentos dos funcionários serão enviados à empresa por meio da comissão, para que se tenha uma resposta oficial.EletricitáriosA comissão aprovou ainda requerimento de Nivaldo Santana (PCdoB) para a realização de audiência pública com a direção da AES Eletropaulo. A concessionária pretende excluir do pagamento de adicional de periculosidade 153 trabalhadores que atuam na inspeção da rede aérea, subterrânea e de novas instalações, bem como de fiscalização de empreiteiras, de controle de qualidade e de projetos de extensão de rede.