O outro vampiro de Dusseldorf

Opinião
09/03/2006 17:57

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Deputado Pedro Tobias <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/P.TOBIAS.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Não se sabe quais motivos teriam levado o publicitário Duda Mendonça a batizar

a conta na qual recebeu mais de R$ 10 milhões da campanha petista justamente

com o nome de Dusseldorf. Mas não seria de se estranhar que o motivo fosse

algum tipo de humor macabro, motivado pelo filme do diretor expressionista

alemão " Fritz Lang " realizado em 1931: "M " O vampiro de Dusseldorf".

A história do filme fala de um assassino em série, cujos crimes revoltam a

sociedade e mobilizam a polícia, atrapalhando os negócios do crime

organizado. Por conta deste estorvo os próprios marginais resolvem prender e

julgar o psicopata, restabelecendo a paz na cidade e permitindo que retomem

as falcatruas de sempre.

Infelizmente parece que o mesmo ocorrerá no final dos escândalos, punindo-se

alguns nomes mais aparentes para que os "negócios" possam continuar com

tranquilidade. Terá Duda previsto que seria um dos escalados para representar

o papel do vampiro da conta Dusseldorf? Talvez só ele possa responder, mas o

filme é conhecido demais para que ninguém se lembrasse da referência.

Foi no campo da publicidade oficial e política " onde atuam dois dos vampiros,

Duda e Valério " que vem as suspeitas da origem da dinheirama sugada dos

cofres públicos. Este fato é bem significativo, afinal já ficou bem

comprovado tanto pelo governo Lula como, antes, pela administração da

prefeita Marta Suplicy, sem contar outros prefeitos do partido, o gosto do PT

pelo marketing.

Certamente, um governo precisa comunicar-se com os cidadãos, falar o que fez e

porquê. Alguns poderiam dizer que também o governo do PSDB em São Paulo faz

propaganda oficial. Há, contudo, muitas diferenças, a mais relevante delas é

que o governo de São Paulo fala sobre o que fez, enquanto o PT gasta dinheiro

para dizer o que vai fazer, planeja fazer, pensa em fazer ou que apenas,

talvez, o faça. Um rápido exame das propagandas pelo leitor pode demonstrar

esta enorme distância entre o resultado concreto e a promessa.

Mas as diferenças não param por aí. O governo de São Paulo tem as finanças

saneadas há anos pelo esforço de Mario Covas e Geraldo Alckmin, tem níveis

crescentes de investimentos, reduziu impostos sobre centenas de produtos, tem

uma máquina administrativa enxuta e moderna, portanto a propaganda não é

feita com recursos essenciais que seriam muito melhor utilizados no

atendimento às necessidades mais relevantes. Muito diferente é a situação do

governo federal, que tem ampliado a carga tributária, inchado a máquina,

gasto mais com viagens do que com investimentos.

Por conta deste estado frágil do governo federal e da propaganda de algo que

pode ser feito ou não, a publicidade federal reveste-se de um caráter perverso

que ela não teria se fosse utilizada com juízo. Ela tem a função não de

anunciar o que foi feito, mas de substituir a efetiva realização das coisas,

criando na mente da população a ilusão de que algo acontece. Muitos exemplos

poderiam ser dados desta política de engôdo, mas bastam dois casos extremos e

de conhecimento público para demonstrar que a ilusão da propaganda substituiu

a realidade das ações no Governo Lula: o famigerado "Fome Zero" e o inútil "

Primeiro Emprego". Ambos os projetos, anunciados na campanha eleitoral,

receberam rios de verbas publicitárias sem jamais terem sido reais, foram

apenas slogans.

É a política realmente de um vampiro, não como o de Dusseldorf mas como o de

Nosferatu " outro filme de Lang " sugando a pouca energia que resta no

orçamento federal para engordar contas bancárias em paraísos fiscais. Mas

punir somente o vampiro é fazer apenas o tumulto dissipar-se, permitindo que

os "negócios" continuem sem chamar a atenção. O verdadeiro centro do problema

não está nos publicitários que se aproveitam da situação para juntar

dinheiro, mas naquele que prefere fazer propaganda a fazer obras.

*Pedro Tobias, médico, é deputado estadual pelo PSDB e membro das Comissões de Saúde e Educação da Assembléia Legislativa de São Paulo

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