Não se sabe quais motivos teriam levado o publicitário Duda Mendonça a batizar a conta na qual recebeu mais de R$ 10 milhões da campanha petista justamente com o nome de Dusseldorf. Mas não seria de se estranhar que o motivo fosse algum tipo de humor macabro, motivado pelo filme do diretor expressionista alemão " Fritz Lang " realizado em 1931: "M " O vampiro de Dusseldorf".A história do filme fala de um assassino em série, cujos crimes revoltam a sociedade e mobilizam a polícia, atrapalhando os negócios do crime organizado. Por conta deste estorvo os próprios marginais resolvem prender e julgar o psicopata, restabelecendo a paz na cidade e permitindo que retomem as falcatruas de sempre. Infelizmente parece que o mesmo ocorrerá no final dos escândalos, punindo-se alguns nomes mais aparentes para que os "negócios" possam continuar com tranquilidade. Terá Duda previsto que seria um dos escalados para representar o papel do vampiro da conta Dusseldorf? Talvez só ele possa responder, mas o filme é conhecido demais para que ninguém se lembrasse da referência.Foi no campo da publicidade oficial e política " onde atuam dois dos vampiros, Duda e Valério " que vem as suspeitas da origem da dinheirama sugada dos cofres públicos. Este fato é bem significativo, afinal já ficou bem comprovado tanto pelo governo Lula como, antes, pela administração da prefeita Marta Suplicy, sem contar outros prefeitos do partido, o gosto do PT pelo marketing. Certamente, um governo precisa comunicar-se com os cidadãos, falar o que fez e porquê. Alguns poderiam dizer que também o governo do PSDB em São Paulo faz propaganda oficial. Há, contudo, muitas diferenças, a mais relevante delas é que o governo de São Paulo fala sobre o que fez, enquanto o PT gasta dinheiro para dizer o que vai fazer, planeja fazer, pensa em fazer ou que apenas, talvez, o faça. Um rápido exame das propagandas pelo leitor pode demonstrar esta enorme distância entre o resultado concreto e a promessa. Mas as diferenças não param por aí. O governo de São Paulo tem as finanças saneadas há anos pelo esforço de Mario Covas e Geraldo Alckmin, tem níveis crescentes de investimentos, reduziu impostos sobre centenas de produtos, tem uma máquina administrativa enxuta e moderna, portanto a propaganda não é feita com recursos essenciais que seriam muito melhor utilizados no atendimento às necessidades mais relevantes. Muito diferente é a situação do governo federal, que tem ampliado a carga tributária, inchado a máquina, gasto mais com viagens do que com investimentos.Por conta deste estado frágil do governo federal e da propaganda de algo que pode ser feito ou não, a publicidade federal reveste-se de um caráter perverso que ela não teria se fosse utilizada com juízo. Ela tem a função não de anunciar o que foi feito, mas de substituir a efetiva realização das coisas, criando na mente da população a ilusão de que algo acontece. Muitos exemplos poderiam ser dados desta política de engôdo, mas bastam dois casos extremos e de conhecimento público para demonstrar que a ilusão da propaganda substituiu a realidade das ações no Governo Lula: o famigerado "Fome Zero" e o inútil "Primeiro Emprego". Ambos os projetos, anunciados na campanha eleitoral, receberam rios de verbas publicitárias sem jamais terem sido reais, foram apenas slogans.É a política realmente de um vampiro, não como o de Dusseldorf mas como o de Nosferatu " outro filme de Lang " sugando a pouca energia que resta no orçamento federal para engordar contas bancárias em paraísos fiscais. Mas punir somente o vampiro é fazer apenas o tumulto dissipar-se, permitindo que os "negócios" continuem sem chamar a atenção. O verdadeiro centro do problema não está nos publicitários que se aproveitam da situação para juntar dinheiro, mas naquele que prefere fazer propaganda a fazer obras.*Pedro Tobias, médico, é deputado estadual pelo PSDB e membro das Comissões de Saúde e Educação da Assembléia Legislativa de São Paulo