Seminário Herança e Cultura do Povo Africano discute dívida social


08/09/2004 20:19

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O Seminário Herança e Cultura do Povo Africano no Brasil se encerra nesta quinta-feira, 9/9, com a abordagem dos temas Políticas Públicas e Afro-descendência<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/afropubl.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Segundo Seminário Herança e Cultura do Povo Africano<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/afromesa2.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Participaram do seminário  representantes de diversas entidades como a Fundação Cultural Palmares, Instituto do Negro Padre Batista, Instituto Cultural Adimula, Pastoral Afro Arquidiocese de São Paulo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/afropubl2.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Promovido pela Frente Parlamentar pela Igualdade Racial e coordenado pelo deputado petista Simão Pedro, o segundo seminário Herança e Cultura do Povo Africano teve início nesta quarta-feira, 8/9, no Auditório Franco Montoro da Assembléia Legislativa. O evento dá prosseguimento ao seminário organizado pela Câmara Municipal de São Paulo em outubro de 2003, conforme esclareceu Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania daquela casa, a vereadora Lucila Pizani Gonçalves (PT).

Diplomatas de Togo, Gâmbia, Benin, África do Sul, Cuba e Uruguai participaram do encontro, além de representantes de diversas entidades como a Fundação Cultural Palmares, Instituto do Negro Padre Batista, Instituto Cultural Adimula, Pastoral Afro Arquidiocese de São Paulo, entre várias outras.

Falsa homogeneidade

Simão Pedro lamentou o desconhecimento pelos brasileiros das especificidades dos diversos países africanos, uma vez que existe uma falsa impressão de homogeneidade cultural, social e econômica. "Precisamos promover um resgate positivo das nossas relações com cada uma dessas nações", afirmou o deputado, no que foi apoiado pela Ministra Chefe da Secretaria Especial para Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro. "O resgate da herança cultural africana é, para nós, mais do que um dever. É uma resposta da sociedade brasileira aos 80 milhões de afrodescendentes que vivem em nosso país", informou a ministra, realçando o cumprimento da Lei 10.639/03, que inclui história e cultura africana no currículo no ensino médio e fundamental.

A coordenadora de Combate ao Racismo e à Discriminação Racial da Unesco no Brasil, Edna Roland, comentou que 2004 foi designado pela Assembléia Geral da ONU como o ano para se comemorar as lutas travadas contra a escravidão. "São duzentos anos desde a revolução do Haiti, que fundou a primeira república negra do hemisfério ocidental". Edna Roland classificou a diáspora africana entre as maiores barbáries já realizadas pela humanidade. Entretanto "os 150 milhões de afrodescendentes da América Latina e do Caribe saíram vitoriosos, pois, apesar das condições degradantes a que foram submetidos, conseguiram preservar seus deuses e sua identidade cultural". A representante da Unesco ponderou, todavia, que o triunfo definitivo somente virá quando não tivermos mais de contabilizar os danos causados aos negros pelo Estado Brasileiro, de todo o mundo, o país que mais importou escravos.

Conexão África-Brasil

Selma Pantoja, professora de história da Universidade de Brasília (UNB), falou sobre a lacuna histórica que envolve um dos mais conturbados períodos da história do Brasil: a escravidão do negro africano.

A professora foi enfática ao declarar que o conhecimento e o esclarecimento desse período está diretamente relacionado com a trajetória dos navios que trouxeram os negros da África para o Brasil. Segundo Selma Pantoja, esse lapso histórico ocorre mais no Brasil. "Na África existem diversos livros sobre o assunto", afirmou.

Conforme as explicações da professora, "esse vácuo histórico deve-se à postura racista que insistimos em negar". Embora haja controvérsias na história contada no país, as décadas de 70 e 80 foram importantes e decisivas para o maior conhecimento da escravidão do negro africano no Brasil. "Nessa época surgiram vários livros sobre o tema que, embora polêmicos, ainda não abordaram o perfil do negro brasileiro".

As dificuldades do negro também foram enfatizadas pela professora, que também comentou a forma errônea de analisarmos a história da África. "Para discurtirmos a África devemos ter uma nova postura, para não nos remetermos à África colonialista". Isso, segundo a professora, deve começar pelo vocabulário utilizado para falar sobre o tema.

O Seminário Herança e Cultura do Povo Africano no Brasil se encerra nesta quinta-feira, 9/9, com a abordagem dos temas Políticas Públicas e Afro-descendência, o Mercado de Trabalho e os Aspectos Jurídicos, a Educação e a Cultura, as a Realidade dos Remanescentes de Quilombos; e a questão da Igualdade Racial e o Combate a todas as formas de discriminação - que será abordado pela ministra Matilde Ribeiro e Edna Roland.

alesp