Morre jornalista Roberto Marinho

Antonio Sérgio Ribeiro
07/08/2003 19:17

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Roberto Marinho<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/rmarinho.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Faleceu nesta quarta-feira, 6/8, no Rio de Janeiro, o jornalista Roberto Marinho, vítima de um edema pulmonar.

Nascido na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 3 de dezembro de 1904, filho de Irineu Marinho Coelho de Barros e de Francisca Pisani Barros, fez o curso primário no Colégio Paula Freitas e o secundário nos colégios Anglo Brasileiro e Aldridge, também no Rio de Janeiro.

Seu pai fundou em 1911 o jornal A Noite, um dos mais importantes da época. Por divergência com seus sócios, saiu da direção do periódico e fundou, em 1925, O Globo. Apenas três semanas depois, Irineu Marinho faleceu repentinamente e Roberto, o filho mais velho, não assumiu a direção, deixando o cargo para Euclides de Matos, companheiro de redação do pai. Exerceu nessa época a função de repórter e de copidesque. Cabe ressaltar que um dos seus "furos" jornalísticos foi a foto histórica tirada na tarde de 24 de outubro de 1930, no Palácio Guanabara, quando o presidente Washington Luís estava sendo conduzido preso ao Forte de Copacabana, após ser destituído.

Na direção do jornal O Globo, imprimiu uma linha independente, colocando-se contra o governo Vargas e a favor da redemocratização do Brasil. Durante a Revolução Constitucionalista fez ampla cobertura da epopéia paulista, inclusive refutando a acusação de separatismo. Ainda nos anos 30 foi contra os comunistas e os integralistas, não era a favor de radicalismos. Durante o Estado Novo, regime a que fez restrições, participou do Conselho Nacional de Imprensa do Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP, de 1940 a 45.

Durante a Segunda Guerra Mundial apoiou os países aliados e defendeu a participação efetiva do Brasil no conflito. Com a criação da Força Expedicionária Brasileira - FEB e o envio dessa força militar à Itália, lançou, em 1944, O Globo Expedicionário, com o objetivo de manter elevado o moral dos soldados brasileiros e de suas famílias.

Em 1944, inaugurou a Rádio Globo, no Rio de Janeiro, iniciando sua participação na radiodifusão brasileira. Em 1945 apoiou o candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República e defendeu a convocação de uma Constituinte. Derrotado seu candidato, apoiou o governo do presidente Eurico Gaspar Dutra, por entender que esse era "o caminho da união nacional contra o comunismo".

Nas eleições presidenciais de 1950 novamente apoiou o brigadeiro Eduardo Gomes, que seria mais um vez derrotado. Eleito Getúlio Vargas, inicialmente manteve uma posição de neutralidade, mas, durante o curso do governo, passou a combatê-lo, inclusive colocando à disposição do jornalista Carlos Lacerda os microfones da rádio Globo, e este atacava o governo sem tréguas. Essa campanha culminou com o suicídio do presidente Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954, dias depois de um atentado contra Lacerda e a morte do major da aeronáutica Rubem Florentino Vaz. A revolta provocada pela morte de Getúlio resultou na queima de vários veículos do jornal O Globo pela população revoltada.

Ainda em 1954 concluiu a construção da nova sede e a modernização de O Globo, com a aquisição de novas rotativas. Apoiou o candidato da UDN, Juarez Távora, contra Juscelino Kubitschek, a quem combateu, durante seu governo. Em 1960, deu apoio a candidatura de Jânio Quadros e, com a renúncia deste passou a combater o sucessor João Goulart, inclusive apoiando o golpe que resultou na destituição de Jango em 31 de março de 1964.

Em abril de 1965 inaugurou sua primeira emissora de televisão, TV Globo do Rio de Janeiro, concessão outorgada pelo presidente Kubitschek em 1957. No mesmo ano da fundação, o governador Carlos Lacerda denunciou o acordo entre a TV Globo e o grupo norte-americano Time Life, por ferir a Constituição brasileira e o Código Brasileiro de Telecomunicações. Essa denúncia resultou em CPI na Câmara Federal. Posteriormente, Roberto Marinho desligou-se do grupo e indenizou o grupo norte-americano, "evitando pretextos que viessem a afetar a empresa", segundo suas palavras.

Posteriormente constituiu o Sistema Globo de Rádio, hoje formado pela CBN, com emissoras em quase todo o país. A televisão também foi sua preocupação, tendo hoje a maior rede de emissoras do país, inclusive com canais de Tv a cabo. Em 1977, criou a Fundação Roberto Marinho, que tem, entre outras finalidades, o intuito de defender o patrimônio artístico nacional.

Laureado em diversas partes do mundo, recebeu entre outros prêmios o "Homem das Américas", em 1987, e foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras, em 1993.

Foi casado com Estela Marinho, com quem teve quatro filhos: Roberto Irineu, José Roberto, João Roberto e Paulo Roberto (falecido). Atualmente era casado com Lily de Carvalho Marinho.

O jornalista faleceu no hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, seu corpo foi velado na sua residência e sepultado no Cemitério de São João Baptista, na tarde desta quinta-feira.



A sessão plenária desta quinta-feira, 7/8, foi levantada em razão da morte do jornalista Roberto Marinho. Abaixo, os depoimentos dos membros da Mesa Diretora da Assembléia sobre o criador da rede Globo:

Roberto Marinho foi o grande responsável pela moderna integração nacional. O País todo, hoje, vive simultaneamente os principais momentos da Nação graças à cobertura territorial da rede Globo de Televisão. O Brasil inteiro viveu e vive o Brasil graças ao espirito pioneiro, empreendedor e, principalmente, de repórter que Roberto Marinho nunca deixou de ser.

Deputado Sidney Beraldo

Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo

Roberto Marinho é um ícone das comunicações no Brasil. Ele foi um empreendedor, um desbravador, transformou um pequeno jornal num império das comunicações e, agora, neste momento mais recente, a Rede Globo vem desempenhando um papel de integração nacional importante, e nós, do PT, temos grande respeito pela figura e pelo que representa o jornalista Roberto Marinho.

Emidio de Souza

1º Secretário da Assembléia Legislativa

Devemos muito à Rede Globo pelos investimentos e pelas parcerias feitas com o capital internacional em benefício da cultura brasileira. Este momento triste do falecimento significa também um momento de reconhecimento pela obra dele (Roberto Marinho). Acredito que se sobrepõe à figura meramente humana tudo o que ele construiu e que hoje é motivo de orgulho nacional.

José Caldini Crespo

2º Secretário da Assembléia Legislativa

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