Semeando crise...

Opinião
09/03/2006 17:54

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Deputado Arnaldo Jardim<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/ajardim.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

"Agricultura é a âncora verde"; "Produtos agrícolas garantem cesta básica mais barata dos últimos anos"; "Brasil torna-se o maior exportador mundial de carne bovina"; "De cada dez copos de suco de laranja exportado, sete são brasileiros". E agora... "Com dólar fraco, agricultura perde R$ 5,9 bi"; "Estiagem quebra 100% da safra de pequeno agricultor de MG"; "Crise na agricultura derruba arrecadação de ICMS nos Estados"; "Agricultor endividado quer devolver máquina"; "Falta de verba assombra o Ministério da Agricultura". A mudança das manchetes dos jornais não deixam dúvidas: estamos à beira de uma das maiores crises da história recente no campo. A luz amarela já está piscando faz tempo " só não vê quem não quer.

Talvez, o Governo Lula esteja inebriado pelo saldo comercial do agronegócio em 2005, que atingiu US$ 38,4 bilhões de superávit, um crescimento de 12,54% em relação ao ano anterior. Um resultado surpreendente, diante de um cenário tão adverso, marcado pela desaceleração nos preços das commodities, a excessiva valorização do real, o colapso latente em áreas como transporte e logística, além da carência de linhas de financiamento específicas.

Mas, qual o segredo desta equação? Basicamente, o agronegócio brasileiro entrou em um processo irreversível de mudanças estruturais diante da competitividade e da complexidade de ingressar no mercado internacional. Os avanços proporcionados pela manipulação genética, simbolizada pela decodificação do genoma de diversos produtos; o salto de produtividade, que pode ser evidenciado pela maior rendimento por hectare nas lavouras; o uso cada vez maior de inovações tecnológicas, onde podemos destacar a utilização crescente de máquinas no campo, colocaram o Brasil como potencial "celeiro do mundo". Essa somatória de fatores demonstra que o nosso produtor rural é um forte e está antenado com o mercado globalizado, pois colocou o País na liderança das exportações mundiais de carne bovina, café, suco de laranja, açúcar e estamos chegando na liderança em soja, carne de aves e de suínos.

Mesmo assim, a pergunta permanece: até quando o fôlego das exportações vai durar? A safra plantada em 2005, que está sendo colhida este ano, foi em parte garantida por compromissos "bancados" por grandes tradings e comercializadores de grãos que forneceram sementes e adubo a alguns produtores, no intuito de honrar os compromissos assumidos no ano de 2004 para entrega no ano seguinte, nos chamados contratos de compra e venda. Para o plantio deste ano e colheita em 2007, a realidade é diferente, pois o alto preço de logística no Brasil está criando uma linha delimitadora que pode inibir o plantio em áreas a mais de mil quilômetros dos portos e a conseqüente fuga dos grandes investidores.

Especialistas do setor calculam que só nesta safra 2005/06 as perdas com o real valorizado podem chegar a US$ 2,7 bilhões (R$ 5,9 bilhões), apenas para os produtores. Aumentaram os custos com combustíveis, herbicidas, fertilizantes, frete e mão-de-obra, enquanto os rendimentos da lavoura recuaram.

Como se não bastasse, a emenda parlamentar que destinava R$ 1 bilhão para a comercialização da safra 2005/06 e a para a defesa agropecuária foi excluída do Orçamento Geral da União. Diante disso, o Ministério da Agricultura deve ficar com apenas R$ 650 milhões já garantidos para bancar a diferença entre os juros de mercado e os do crédito rural aos produtores. Os cortes e contingenciamentos capitaneados pela equipe econômica também chegaram à defesa sanitária, que deve contar com apenas R$ 186 milhões para combater a febre aftosa no País " parece que o embargo de 41 países à carne brasileira não serviu de lição.

Se somarmos a isso o impasse nas negociações para a queda das barreiras tarifárias para as commodities agrícolas, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), posso dizer, sem risco de ser chamado de pessimista de plantão, que estamos dando um tiro no pé no nosso desenvolvimento. Afinal, não podemos esquecer que se usufruímos de estabilidade econômica, o fiel desta balança está no sucesso do nosso agronegócio. Sem ele, o castelo de cartas, que se tornou a política econômica monetarista, ruirá.

O campo urge por uma política agrícola nacional, consistente e duradoura, pois em meio à conquista de novos mercados não há lugar para pacotes emergenciais ou improvisações. Esta política deve ter como premissas o ajuste da taxa de câmbio, para evitar a excessiva valorização do real; o fortalecimento da defesa sanitária, no sentido de evitarmos problemas como o da febre aftosa e o da gripe aviária; investimentos pesados na melhoria no escoamento da nossa produção, por meio do aperfeiçoamento dos corredores de exportação; a desoneração tributária e fiscal de toda a cadeia produtiva; o aprimoramento dos mecanismos de financiamento e seguro rural; além de promover, de forma permanente, a inserção de inovações tecnológicas no campo.

È fundamental que o governo brasileiro estabeleça uma agenda agrícola exeqüível, de médio e longo prazos, escorada por um planejamento estratégico capaz de atender a crescente demanda mundial por fibras, alimento e energia renovável. Em suma, precisamos colocar o setor agrícola no patamar que ele merece, o de força motriz do nosso desenvolvimento, pedra de toque da nossa economia.



*Deputado Arnaldo Jardim

arnaldojardim@arnaldojardim.com.br

www.arnaldojardim.com.br

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