"Toda obra é uma pergunta que exige uma resposta", dizia Balzac. Uma arte feliz como a de Doris Kyburz é mais difícil de comentar do que uma arte voluntariamente dramática. Sob uma aparente facilidade, resultante da utilização de raros dons e do conhecimento experimentado de um sólido métier, a primeira qualidade da artista é sua profunda humildade frente à perfeita beleza da luz.A estrutura de sua composição é perfeitamente equilibrada. Em suas paisagens e em suas naturezas mortas, Doris Kyburz se caracteriza por um colorido claro e delicado, uma profundidade espacial, uma luminosidade surpreendente.Seu ambiente de predileção é aquele das brumas matinais suspensas entre o céu e a terra; dos contrastes atmosféricos sobre planícies e vales de nosso interior; dos efeitos solares sobre a camada azulada de um lago ou do mar; e dos crepúsculos misteriosos inflamando as nuvens de tintas visionárias.A visão de Doris Kyburz é aquela de um sacerdote, de um ser humano de fé. Abre uma grande janela sobre a beleza que se enquadra inteiramente. Nada de metáforas esotéricas ou pretensiosas. A recusa de uma especulação plástica, substituída por um panteísmo discreto, dá a sua obra uma grande estabilidade expressiva, que descobrimos com alegria, amor e serenidade.Como é verde o meu vale é o título da obra doada pela pintora ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho. Trata-se de uma evocação lírica de um paraíso quase perdido e posteriormente reencontrado, misto de reminiscências e de redescoberta do espetáculo presente na sua elementar beleza, exaltada pela arte. Na simplicidade figurativa da pintura de Doris Kyburz, os seres e as coisas se revestem de uma dupla tendência: serenidade e solidão.A ArtistaDoris Kyburz nasceu em Basiléia, Suíça, em 1932. Em 1942, transferiu-se com a família para o Brasil, onde realizou seus estudos secundários. Para dar continuidade aos seus estudos, na década de 1950 voltou para a Suíça, e lá se formou na Escola de Belas-Artes de Zurique. Ao regressar ao Brasil, seguiu cursos de gravura com Aldemir Martins e de pintura com Yolanda Mohaly. Participou de diversas exposições coletivas e individuais, entre as quais destacam-se: Museu de Arte de São Paulo, Espaço Cultural Chap, Art Show, na Chapel School, em São Paulo; Galeria de Arte em Aarau e em Davos, na Suíça. Em 1978, recebeu menção honrosa no Salão Pró-Arte e foi selecionada em 1985 para a mostra "Artistas Suíços no Brasil", realizada no Masp. Desde 1979 deixou São Paulo para morar com a família na Fazenda Santo Antônio, em Itaí, onde vive na mais perfeita harmonia com sua obra.Paralelamente a seus quadros, tem se dedicado à ilustração de livros de contos e de poesias. Possui obras em importantes coleções particulares no Brasil, Suíça, Alemanha, França e Estados Unidos, bem como no Acervo Artístico da Assembléia Legislativa de São Paulo.