Frente Parlamentar debate regularização de terras quilombolas


28/06/2005 19:39

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A Frente é integrada por 23 parlamentares e coordenada pelo deputado Hamilton Pereira<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/quilombo.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Lançamento da Frente Parlamentar em Defesa das Comunidades Remanescentes de Quilombos<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/quilombo2.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Apesar dos mandamentos da Constituição Federal, ordenando que seja reconhecida a propriedade definitiva aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando as suas terras, a realidade enfrentada pelas comunidades quilombolas do Estado é bastante diferente. Foi o que relatou Benedito Alves da Silva, conhecido como Ditão, no lançamento da Frente Parlamentar em Defesa das Comunidades Remanescentes de Quilombos, integrada por 23 parlamentares e coordenada pelo deputado Hamilton Pereira (PT), nesta terça-feira, 23/6, na Assembléia Legislativa.

Ditão é representante dos remanescentes das comunidades quilombolas no Estado. Segundo ele, "os direitos, na verdade, não são iguais. Nós estamos por baixo, eles estão por cima", declarou, referindo-se às dificuldades que as comunidades enfrentam para obter a titularidade e o registro de suas terras, face à presença de invasores, grileiros e empresários. Destacou também a ameaça representada pela iminente instalação de barragens ligadas a projeto da Cesp, além do fato de muitas terras fazerem parte de áreas de proteção ambiental (APAs) e de parques estaduais.

Frente Parlamentar

A Frente Parlamentar em Defesa das Comunidades Remanescentes de Quilombos ainda não foi criada oficialmente. Ela é objeto do Projeto de Resolução nº 17, de 2004, que aguarda aprovação. Apesar disso, face à justeza da causa, já começou a trabalhar, debatendo temas ligados às comunidades. A frente se propõe a atuar como interlocutora entre os diversos órgãos públicos, federais e estaduais, visando o reconhecimento da propriedade das terras aos quilombolas, além de propor medidas de desenvolvimento, geração de emprego e renda e preservação da identidade cultural desses grupos.

Holocausto X escravidão

Participaram também do lançamento da frente os deputados Nivaldo Santana e Ana Martins, do PCdoB, Simão Pedro, Sebastião Arcanjo, Maria Lúcia Prandi, todos do PT. Os parlamentares enfatizaram o caráter extremamente justo da reivindicação dos quilombolas, lembrando a dívida que a sociedade brasileira tem para com população negra, que deve ser reparada o mais breve possível. Simão Pedro comparou a tragédia da escravidão no Brasil ao holocausto do povo judeu, lamentando que a verdadeira extensão dos crimes cometidos jamais será conhecida inteiramente, já que a maioria dos documentos da época, como lembrou, foi incinerada por ordem do então ministro Ruy Barbosa.

Itesp e Incra

Jonas Vilas Boas, representando o Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), reconhecendo as queixas feitas por Ditão, assinalou que os dispositivos constitucionais não são auto-aplicáveis e demandam longos processos de instrução, tendo em vista inclusive novas exigências legais, como o geo-referenciamento, previsto na Lei nº 10.267/01, e o enfrentamento de demandas judiciais, especialmente naquelas áreas de propriedade privada.

Representando o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Telma Maria Cardoso enfatizou o interesse do órgão na titulação das terras quilombolas e lembrou a recente criação de um grupo interministerial para examinar questões que envolvam a atuação de várias pastas, o que permitiria a inclusão da questão das terras dos quilombolas na pauta do grupo.

Ao final do lançamento da frente parlamentar, o deputado Hamilton Pereira anunciou o agendando da primeira reunião da Frente, a realizar-se no gabinete do próprio secretário da Justiça, Hédio Silva, lembrando o reconhecido interesse do secretário pelo tema.

Estiveram presentes também ao lançamento outras lideranças quilombolas, como Grabriela Lourenço dos Santos, da comunidade Caçandoca, de Ubatuba, além de representantes do movimento negro.

alesp