Seminário discute os problemas da economia brasileira

Evento antecede a Conferência Caio Prado Júnior, marcada para agosto, que definirá os rumos da esquerda democrática
03/08/2007 16:52

Compartilhar:

Professor Yoshiaki Nakano<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/SEMINA POL ECON Prof Nakano (6)MAU.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Alex Manente, Luíz Gonzaga Belluzzo, Júlio Almeida, Gilberto Dupas, Roberto Freire, Yoshiaki Nakano, Davi Zaia e Arnaldo Jardim<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/SEMINA POL ECON aqui.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> O seminário "Visão crítica da atual política econômica", analisa mudanças ocorridas na economia brasileira nas duas últimas décadas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/SEMINA POL ECON publ MAU_0010.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Davi Zaia e Arnaldo Jardim<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/SEMINA POL ECON DAVID ZAIA,Jardim (1)MAU.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Professor Júlio Almeida<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/SEMINA POL ECON Prof Julio Almeida (1)MAU.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Gilberto Dupas e Roberto Freire<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/SEMINA POL ECON Roberto Freire (2)MAU.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Uma análise das mudanças ocorridas na economia brasileira nas duas últimas décadas foi o foco de um debate na Assembléia Legislativa nesta sexta-feira, 3/8. Estratégias políticas erradas e a gradual transformação dos valores da sociedade foram apontadas pelos especialistas como fatores responsáveis pelo baixo crescimento econômico do Brasil após os anos 90.

O seminário Visão crítica da atual política econômica, organizado pelo deputado Davi Zaia (PPS), faz parte de uma série de atividades preparatórias em vários estados e antecedem a Conferência Caio Prado Júnior, marcada para agosto, para definir os rumos da esquerda democrática no país.

Renomadas autoridades do setor econômico, atuantes também na área política, compuseram a mesa. Entre eles os professores Yoshiaki Nakano, que foi secretário do governo Covas; Gilberto Dupas, coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP e ex-secretário no governo Montoro; Luiz Gonzaga Belluzzo, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda no governo Sarney; e Júlio Almeida, membro da equipe do ministro Guido Mantega. Estavam presentes também o deputado federal Arnaldo Jardim e os estaduais Alex Manente e Davi Zaia, todos do PPS, além do presidente nacional do partido, Roberto Freire.

Gilberto Dupas trouxe uma reflexão con­ceitual da trajetória econômica mundial. Segundo ele, desde 1990, países como China, Índia e Coréia tiram proveito de uma grande onda de crescimento, oportunidade esta que o Brasil desperdiçou. O economista atribui o medíocre desenvolvimento brasileiro de 1990 a 2005 ao alinhamento à lógica de abertura às importações. "Basta abrir que tudo dará certo", citou Gilberto, referindo-se à crença de Fernando Henrique Cardoso nessa estratégia, e atualmente compartilhada por Lula. "E o Brasil caiu na armadilha do orçamento equilibrado", completa.

O quadro da economia brasileira no período de 1940 a 1980 foi retratado por Yoshiaki Nakano. Segundo ele, as metas de crescimento daquela época eram aceleradas, em torno dos 7% ao ano, e, ainda assim, eram atingidas. "O Brasil de hoje se perdeu, está sem estratégias", define Nakano.

Na opinião do especialista, a receita de crescimento de qualquer país passa pela industrialização, que por sua vez, exige investimento. "Essa é uma das falhas cometidas pelos atuais governantes", completou. Em vez de pólos industriais, o Brasil apostou nas exportações, o que resultou num breve processo de desenvolvimento de 2002 a 2003. A partir de 2004, no entanto, elas perderam seu impacto, enquanto as importações aumentaram.

Para 2007, os especialistas econômicos prevêem um PIB de 4,5%, em contrapartida, a demanda doméstica interna será de 6 a 7%. A diferença entre o que o Brasil consome e o que produz é sanada com a importação. Por isso, a dependência das importações giram em torno de 130 bilhões de reais ao ano.

Sobre a exportação, Nakano observa que ela é o motor de arranque da economia e deveria ser a grande geradora de empregos. Mas Gilberto Dupas questiona se isso é verdade. "Como explicar que os cargos que mais crescem entre os jovens brasileiros são os operador de telemarketing e o de motoboy?"

Nakano alerta ainda sobre a necessidade de avaliar a qualidade das exportações brasileiras. No Brasil, embora o ganho represente US$ 20 bilhões ao ano, é preciso diversificar a exportação de manufaturados, uma vez que a atual cesta de exportações se baseia em produtos primários. Além disso, a emergência de países como China e Índia tornou muito mais acirrada a competitividade por outros mercados consumidores.

Por isso, segundo especialistas, sobram poucas alternativas de crescimento futuro para o Brasil, entre elas, a construção civil e os biocombustíveis.

Luiz Gonzaga Belluzzo aborda outro viés para o emperramento econômico que, segundo ele, é decorrente de um desestruturação no processo social. "As mudanças nos valores sociais ocorreram numa velocidade incrível e nós não percebemos", ressaltou. Ele defende o ponto de vista de que a escola, a família e as organizações sociais não conseguem cumprir seu papel de esclarecer o cidadão. "A camada social tem de ser respeitada por sua função na sociedade, pelo que faz, e não pelo salário que ganha. Hoje, o ganho social é instituído como fator determinante de poder", completou. Ele afirma que a classe média, composta anteriormente por médicos, advogados, intelectuais, foi liquidada. Pesquisas mostram que basta ter renda familiar de R$1,8 mil mensais para pertencer à classe média. "Todas essas transformações geram consequências lastimáveis, como o espancamento de professores pelos excluídos sociais", exemplificou Belluzo. O especialista reforçou, assim, a urgência de uma reforma do Estado que solucione os vários problemas do país, uma vez que os de ordem econômica estão diretamente relacionados aos sociais.

alesp