Exército não é polícia

Opinião
16/03/2006 16:14

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Afanasio Jazadji<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/afanasio.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Por cerca de dez dias, no início de março, mais de mil soldados do Exército vasculharam favelas do Rio de Janeiro e ajudaram a reduzir o movimento da venda de drogas nos morros cariocas, mas voltaram a comprovar que esse não é o melhor modo de acabar com a máfia dos traficantes. Com minha experiência de 40 anos de jornalismo e 19 anos como deputado estadual, posso garantir que Exército é Exército e Polícia é Polícia, cada um com suas especialidades.

Combater traficantes nas cidades é missão da polícia e não de soldados do Exército. Não é a primeira vez que as Forças Armadas intervêm no grave problema do tráfico de drogas nos morros do Rio. E, a exemplo das tentativas anteriores, o perigo de fracasso sempre rondou essa missão.

O Exército foi às ruas porque traficantes, roubaram dez fuzis e um revólver do quartel de São Cristóvão. Foi iniciada, então, a Operação Cerco Total do Exército, com apoio direto do ministro da Defesa, José Alencar, que também é vice-presidente da República.

O curioso é que, apesar de a Delegacia de Repressão a Entorpecentes do Rio de Janeiro ter anunciado que a ocupação dos morros pelo Exército reduziu o tráfico de drogas nessas localidades em 70%, mas as armas roubadas continuaram desaparecidas, até 14 de março, quando foram devolvidas. Falou-se de acordo entre o Comando do Tráfico e a Chefia de Operações Militares. Sem dúvida um acordo para que houvesse uma saída honrosa para as tropas dos morros.

Nos intervalos da programação de sua alegre excursão a Londres, onde posou para fotos ao lado da rainha Elizabeth II, o presidente Lula reforçou a necessidade de o Exército agir no Rio. Mais tarde, em Santiago, já ao lado de outra mulher famosa, a nova presidente do Chile, Michele Bachellet, ele voltou a demonstrar apoio à decisão de Alencar de manter os militares na caça aos ladrões de armas. No Rio, uma terceira mulher, a governadora Rosinha Mateus, se fazia de morta, como se nada tivesse a ver com ela. No entanto, ao retornar ao Brasil, o presidente admitiu mudar de estratégia: era preciso buscar uma saída honrosa, após as trapalhadas aventuras das tropas nos redutos das máfias das drogas. Houve nova ordem. Com isso, os soldados deixaram de pernoitar nos morros e apenas passaram a fazer inspeções durante o dia.

Apesar dessa estratégia, ficou evidente o recuo. E a lição persiste. Os políticos têm de abandonar a demagogia e rever uma tradição universal.

Os governos federal e estaduais precisam saber que, mesmo nas crises mais agudas, como a época das greves das Polícias Militares dos tempos de FHC, e a dos ataques de traficantes ao Rio, cabe aos Estados manter Polícias competentes, bem-equipadas, bem-pagas, evitando recorrer às Forças Armadas. Só assim o crime organizado será vencido. Apesar de toda a gravidade da situação no Rio de Janeiro, ainda não se chegou a uma convulsão social, a uma guerra civil, que exigiria tropas federais. Ou o Brasil não é uma Federação?

Afanasio Jazadji* é advogado, radialista e deputado estadual pelo PFL

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