CPMI investiga quadrilha de roubo e adulteração de veículos


16/04/2004 19:56

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Reunião da CPI mista federal realizada à Assembléia Legislativa<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/CPMI1.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Senador Romeu Tuma (esq.) e o leiloeiro Sodré Santoro<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/CPMI.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Da Redação

O vendedor da Ideal Veículos, Ciro de Lira Júnior, voltou atrás na afirmação feita em reportagem gravada com câmara oculta e exibida pela TV Globo em agosto do ano passado, de que a empresa de inspeção de veículos CTV é do mesmo dono da revendedora de carros, o que facilitaria a inspeção em veículos salvados. A afirmação fora feita a um repórter que se fazia passar por comprador.

"Falei aquilo apenas no intuito de facilitar a venda", disse Ciro, em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Senado e da Câmara dos Deputados, que investiga práticas criminosas no comércio desses veículos. A denúncia da TV Globo apontava para a possibilidade de os veículos recuperados pelas seguradoras, em más condições - chamados de salvados -, serem revendidos apenas para ter sua documentação e chassis utilizados na legalização de carros roubados.

Ciro disse ter afirmado ao repórter-comprador, na ocasião, que a emissão do laudo comprobatório de que o automóvel está em condições de trafegar seria emitido "desde que o veículo estivesse em ordem", e não em qualquer circunstância. A inspeção de veículos salvados é obrigatória por lei, e deve ser realizada por empresas credenciadas pelo Inmetro.

A CPMI, que se reuniu nesta sexta-feira, 16/4, na Assembléia Legislativa de São Paulo, havia ouvido, pouco antes, o proprietário da CTV, Alex Pereira de Almeida. Ele disse que a empresa não realiza vistoria, mas inspeção de itens de segurança, e que não tem como verificar se os veículos que passam pelo exame de seus técnicos foram montados com peças roubadas. "De qualquer forma, não damos laudo sem vistoria", ele afirmou. Almeida disse ainda que está processando a TV Globo.

A Comissão Mista, presidida pelo senador Romeu Tuma (PFL/SP), ouviu o leiloeiro Luiz Fernando Sodré Sontoro. O ramo de leilões entrou na mira da comissão porque parte dos veículos salvados é vendida dessa forma e a nota emitida nessas transações em geral identifica o carro apenas pelo modelo, ano e cor. "Não podemos informar o número do chassi na nossa nota de venda porque quando o veículo vem para leilão ele já está com essa identificação recortada", disse Santoro. "Ele se torna veículo anônimo."

O leiloeiro engrossou, assim, o coro de policiais e parlamentares que, na quinta-feira, durante reunião da CPMI, consideraram um erro da legislação tornar obrigatório o recorte do chassi e a baixa no Detran dos veículos cujo sinistro é considerado perda total.

"O crime se vale das vírgulas nos lugares errados", disse o deputado Cabo Júlio (PSC/MG), ao criticar as brechas legais que facilitam a ilegalidade no mercado de veículos salvados. Um mercado cujas dimensões são ainda maiores, como aponta uma observação feita pelo leiloeiro Sodré Santoro aos parlamentares: "A frota segurada é muito pequena e a grande maioria das vendas de carros sinistrados se dá diretamente por particulares". Nesses casos, o controle das transações é ainda mais difícil.

Sem cooperação

Também depuseram à CPMI Jean Francisco Iotti, José Claro dos Santos, o Zé Gaúcho, e Roberto Shildel, todos presos acusados de roubo, receptação e adulteração de veículos. Acusado também de co-autoria em latrocínio, já que o gerente da empresa Astra, Antônio Ovídio Rodrigues, fora morto durante o roubo de seu Honda Civic, em Jundiaí, Iotti foi o primeiro a ser ouvido pelos parlamentares. Não deu qualquer colaboração às investigações, o que levou o relator Hidekazu Takayama (PMDB/PR) à conclusão de que o depoente sofria ameaças.

Preso em flagrante em janeiro deste ano, quando foram apreendidos em sua oficina mecânica um caminhão Scania furtado e pinos para remarcação de chassis, Zé Gaúcho também negou qualquer irregularidade em seu negócio, incluindo tentativa suborno. "Está gravado em uma fita da TV Record o oferecimento de R$ 50 mil a policiais, mesmo assim você nega?", questionou o senador Tuma, que não pode desmentir o depoente por não ter em seu poder a referida gravação.

Preso desde janeiro, Roberto Shildel declarou apenas ser funcionário da empresa de Zé Gaúcho e desconhecer qualquer irregularidade na oficina. Apesar das advertências do senador Romeu Tuma de que mentir para a CPMI agravaria sua sentença, Shildel continuou alegando inocência, o que levou os parlamentares a encerrar a reunião. Takayama apelou à população no sentido de que colabore com as investigações. Qualquer informação pode ser dada por meio do telefone 0800.612211.

alesp