Melancólico acordo com presos

Opinião
31/03/2006 16:23

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Afanásio Jazadji<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/afanasio.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Contrariando informações oficiais de que "o Governo do Estado não negocia com presidiários", infelizmente o que se ouve de agentes penitenciários é que, nos últimos dias, teria havido, sim, um melancólico acordo entre autoridades da Secretaria da Administração Penitenciária e o chamado alto comando do PCC - Primeiro Comando da Capital.

O primeiro sintoma do nefasto acordo diz respeito à primeira-dama do crime no Estado, a companheira do Chefão do PCC, o famigerado Marcola, que não pode mais ser revistada em suas idas-e-vindas ao cárcere do bandido que de dentro da cadeia ainda lidera seqüestros e determina outros crimes por todo o Estado.

Por mais que os assessores do ex-governador insistam em proclamar que em São Paulo não existe bandido famoso, eles teimam em ignorar o poder de fogo de Marcola, que infelizmente, pela tibieza do ex-governador e seus péssimos conselheiros, ganha força atrás das grades e continua mandando, e muito, no crime em São Paulo.

Pasme que o secretário Nagashi Furukawa, da Administração Penitenciária, depois de 30 rebeliões este ano em São Paulo, na semana passada ainda estava apenas desconfiado que o movimento era orquestrado. E ele encerrou a semana com essa terrível dúvida...

Esse mesmo secretário Furukawa que é apontado como o responsável pela megarregelião de fevereiro de 2001, em que 29 penitenciárias se rebelaram simultaneamente no Estado. E foi o único movimento que se tem conhecimento na história em que nenhum preso tentou ou quis escapar.

Fala-se que, dias antes, ainda na Divinéia da implodida Casa de Detenção do Carandiru, o ex-juiz de traços orientais, em conversa com líderes de vários grupos dissidentes prometera inúmeras transferências e regalias para presos... e não cumpriu. Esse teria sido o motivo daquele histórico levante.

E mesmo assim as autoridades não aprenderam.

Aproveitando-se da fraqueza governamental, os levantes foram estourando a cada dia. E, para não complicar mais a vida do governador com dia marcado para renunciar, os cadeeiros foram fazendo exigências. E sendo atendidos. A ordem era não irritá-los, procurar não atirar mais combustível na fogueira.

Não se pode e nem se deve menosprezar o poder de fogo e muito menos a inteligência dos criminosos. Se eles não têm acesso à leitura diária, ouvem rádio e, mais modernamente, recebem informações pelos telefones celulares. Alguns até pela Internet.

Nessa medição de forças e nesse leque de tentar acantonar ainda mais o Governo que nunca os enfrentou como deveria, os mandões do PCC foram fazendo exigências até risíveis, e que sempre foram consideradas e até prontamente toleradas pela administração penitenciária.

Depois da 31ª rebelião do ano, para não prosseguir nos motins, que poderiam macular a figura do governador renunciante, eles listaram mais alguns absurdos pedidos:

- Mudança da cor dos uniformes de todos os presos para cáqui;

- Nenhum preso mais será transportado para Fórum algemado;

- Nos carros de presos haverá ar condicionado;

- Banho de sol o dia todo e não mais só por duas horas;

- Nenhuma mulher será mais revistada nos dias de visita;

- Extinção do Regime Disciplinar Diferenciado;

- Não haverá mais castigo e nem celas fortes nas cadeias.

Essas são as exigências. As cartas estão colocadas. Em São Paulo são 114 barris de pólvora. Algumas penitenciárias com capacidade de contenção já superada. Outras nem tanto. Com o novo governador, Professor Cláudio Lembo, iniciando sua gestão, o compasso do sistema, agora, é sentir o temperamento do atual Chefe do Executivo. Haverá margem para novos acordos? Que ao menos não sejam tão melancólicos...

Afanásio Jazadji* é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL

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