Lúcia Py transmite sua tensão lírica através de uma linguagem de absoluta liberdade

Emanuel von Lauenstein Massarani
13/08/2003 14:00

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Lúcia Py<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/Lucia Py.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O principal mérito de Lucia Py é de nos oferecer imagens pictóricas de elevado conteúdo lírico, capazes de nos transmitir, sem subterfúgios, a sua mensagem de ser humano que, ao envolver-se com os fenômenos da natureza está fadada a conquistar um ponto firme de equilíbrio espiritual. A natureza representa para a artista um cenário sempre novo de encantada beleza, cujas obras repropõem com nitidez, procurando-nos a alegria de um encontro, de uma redescoberta.

Lucia Py se deixa envolver no fascínio das cenografias da natureza: as ondas que batem nas encostas, o sol que traspassa as folhagens da floresta, a superfície dos mangues que nos envolvem numa atmosfera de solene silêncio e conseguem ultrapassar a representação para colher sua íntima mensagem.

As pinturas dessa artista são sempre imagens da realidade natural. O caráter de suas imagens é sempre, à primeira vista, naturalístico. Do fundo da cena avança, pouco a pouco, uma espécie de chamamento que revela o componente romântico de sua visão da pintora. A realidade é alusiva, se não uma transfiguração. Sua paisagem traz em si mesma uma potente força de explosão cromática e nos aparece envolvida na atmosfera que paira "entre a luz e o sonho" como a maravilhosa expressão de Rainer Maria Rylke.

A arte se reconhece através dos valores criados pelo espírito que volteia no sonho e retira das coisas terrenas tão somente a motivação. Ela possui um poder pictórico cuja voz essencial se traduz em um confessado momento de inspiração. E o resultado é uma paisagem na qual a emoção da artista transmite imediatos sentimentos poéticos.

Enquanto na música o tema e o conteúdo se fundam numa variedade abstrata, na pintura de Lucia Py eles se separam na figuração para se fundir na unidade pictórica. A singular característica de sua pintura encontra sua expressão transpondo na cor quentes harmonias sinfônicas. Assim, notas e cores aderindo entre si se amalgamam na representação figurativa do encontro entre o céu e o mar.

O díptico "Sois Peregrinos", doado ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, é o resultado de um diálogo que a artista estabelece com suas imagens, uma vez que seus quadros podem ser vistos em duas situações opostas: o céu dominando o mar ou o mar dominando o céu. Ponto e contraponto; mas sobretudo um encontro com a sua realidade. Tensão lírica, mas sobretudo linguagem com absoluta liberdade.

A Artista

Lucia Py, pseudônimo artístico de Lucia Maria de Souza, nasceu no Rio de Janeiro, no ano de 1943. Artista plástica experimental, vive e trabalha em São Paulo. Desde 1966 atua no espaço urbano e nos principais museus do país com mostras individuais, apropriações, interferências, instalações e cenas.

Preocupada com a necessidade do embasamento teórico, atua em espaços institucionais, alternativos e urbanos. Com obras em grandes dimensões, usa o espaço como suporte, linguagem e/ou circunstância. O objeto interage com o espaço, construindo metáforas e cenas.

Possui obras em vários acervos e museus, tais como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte Moderna de São Paulo e os Acervos do Palácio Bandeirantes e da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

Participou de 42 Salões Nacionais e de inúmeras exposições no Brasil e no Exterior, destacando-se entre elas: "0 Novo Homem tem este Pé" "Pé de Momentos", Centro Cultural Vergueiro e Estação do Metrô, SP; "O Direito Nosso de Cada Dia", Centro Cultural São Paulo; "Mulheres e Potes", São Paulo - Galeria do Central American Art Series; "Mulheres no Mercado", Poços de Caldas, MG e São Carlos, SP (1966 a 1976); "Medidas e Nós", Galeria de Arte Casablanca, Rio de Janeiro (1977); "Homenagem a Dienes", MASP SP, Fundação Cultural de Curitiba, PR (1979); "Módulos 1 e Espaços 1", São Paulo (1980); "Modernidade em Liquidação - "Cre-Diário"; 1º Salão Paulista de Arte Contemporânea; Bienal de SP; "O Silêncio do Corpo no Espaço"; "Não Estandartes-uma proposta para 15h15", Paço das Artes de São Paulo; (1982); "Mo Vi Adulto", Viaduto da Cidade de Osaka (1983); "Apropriação de um espaço", UNICAMP, Campinas (1984); "A Cena Muda, o Roxo Não", Pinacoteca do Estado de São Paulo (1985); "Virada do Século XX", Pinacoteca do Estado (1986); "As siluetas que passavam fizeram-se pontos brilhantes?" Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo; Museu Hispanico de Arte Contemporary (MOCHA) New York (1987); "Ha tempos imemoriais: via duto/via MAC", Viaduto do Chá e MAC, SP (1988); "Conexus", MAC , SP; "Novas Imagens", Secretaria da Cultura e UNESP; programa paralelo com a 19 Bienal de São Paulo; "A Via Novamente", MAC SP, Estação Metrô da Sé e Viaduto do Chá (1989); "Peças para Ananke", MAC SP, (1990); "Uma Intervenção na Paulista" e "Como se mares fosse para o azul navegar", Metrô de São Paulo (1991); "Cenas de Parábolas", Museu de Arte Brasileira da FAAP 1993); "O canto das árvores", no Aeroporto Internacional de Cumbica (1995); "A Idade do Ouro", Pavilhão do Brasil na Artexpo de Nova York (1996); "Sobre Espelhos", Monica Uint Escritório de Arte, SP (1999); "Le Jabuti bleu et ses coupes", Maison de Clotilde de Vaux - Paris (2000); "Gold aus Sepia", Espaço Multimodal da Embaixada do Brasil, em Berlim; Artexpo em Nova York (2001); "Paisagens Imaginárias - Testemunhos", no American College Dublin, Oscar Wilde House; Galleria de Arte Asahi, SP (2002).

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