A hipersofisticação do material moderno mata, segundo muitos fotógrafos, a emoção, reduzindo consideravelmente a parte do trabalho manual no processo de tomada fotográfica. O que não é o caso de Giulia Scaglione. Artista e fotógrafa, se lembra que deve permanecer mestre de seu produto e de suas transformações desde o início até o fim. Não pode deixar uma máquina fotográfica decidir o que deve ser feito. Não importa em que momento o fotógrafo pode intervir de maneira a obter uma prova completamente original. Tão melhor será se no percurso o azar se unir para alterar o tom ou a forma da foto. Para dar a suas imagens um caráter mais pessoal, Giulia Scaglione as trata segundo procedimentos incomuns, às vezes longe das técnicas tradicionais. O resultado é bem interessante, sobretudo nas fotos dedicadas à arquitetura: recuo da perspectiva das edificações, perda de todo o ponto de fuga e algumas justaposições de planos. Na maioria dos fotógrafos, o desejo de pintar não está afastado. E a obra é muitas vezes a conclusão de uma longa série de intervenções. Assim é a fotógrafa italiana que gosta de flertar com um sentimento do passado para transcender a própria idéia do tempo. Muito além da forma, existe também a idéia de uma certa feminilidade que se exprime em sua obra com uma maravilhosa mistura de força e fragilidade.Apaixonada pelo século em que vivemos e preocupada pela passagem do tempo, pela lenta desagregação dos exteriores e dos componentes da nossa moderna arquitetura, Giulia Scaglione não poderia deixar de se interessar pelo conjunto escultural que Niemeyer projetou para o Memorial da América Latina. Em Memória de um Memorial, ensaio fotográfico doado ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo, representa uma importante contribuição dessa artista-fotógrafa para a interrogação que essas imagens colocará aos arqueólogos e aos historiadores da arte nos próximos séculos. Para tanto, ela escolheu enfocar poeticamente os rigores lineares, as curvas, os maciços de concreto, os símbolos existentes e o jogo de luzes e sombras, entrelaçadas e projetadas nos espaços criados por outro artista plástico.A artista Giulia Scaglione, pseudônimo artístico de Giulia Maria Morra Scaglione, nasceu em 1973, na cidade de Turim, Itália, onde estudou no Liceu Clássico Cesare Balbo e diplomou-se em Economia e Comércio na Universidade de Turim.De 1996 a 1998 viveu em Strasburgo, na França, onde apro-veitou para estudar in loco história da arte e da fotografia. Realizou diversas viagens de estudo pela Espanha, Grécia, Turquia, Praga, Nova York e Londres.No ano 2000, por ocasião dos 500 anos do Brasil, mudou-se com a família para São Paulo, onde se descobriu apaixonada pela fotografia em preto e branco, o que a levou a cursar com sucesso a Escola Panamericana de Arte e Design, sob a supervisão do professor Ary Condota. Em 2002 regressou à Itália, realizando diversas exposições sobre sua estada em nosso País.Entusiasta da arquitetura e dos arquitetos brasileiros tem se dedicado a fotografar os exemplares mais significativos de nossas edificações. Vale salientar que, após realizar um excelente ensaio sobre o Memorial da América Latina, está preparando outro, desta feita sobre o Palácio 9 de Julho, sede da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Possui obras em diversas coleções particulares e no Museu de Arte do Parlamento de São Paulo.