O caminho da Independência do Brasil

Os fatos que ocorreram em São Paulo e que foram determinantes para a vinda de D. Pedro e o grito do Ipiranga.
06/09/2012 19:03 | Da Redação - com colaboração de Antônio Sérgio Ribeiro*

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Museu Paulista<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2012/fg117720.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Clique para ver a imagem " alt="Interior do Museu Paulista com detalhe do quadro "Independência ou Morte" Clique para ver a imagem "> D. Pedro I por Benedito Calixto<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2012/fg117725.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Museu Paulista<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2012/fg117722.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Memorial do Ipiranga, local do Esquife de Dom Pedro I<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2012/fg117724.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Casa do Grito, no Parque da Independência <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2012/fg117726.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Clique para ver a imagem " alt=""Quadro Independência ou Morte" feito em 1888, atualmente no salão nobre do Museu Paulista da USP, é a principal obra do Museu Paulista Clique para ver a imagem ">

A divergência entre os membros da junta do governo provisório, conservadores e liberais, que desde o ano anterior dirigiam os destinos da Província de São Paulo, resultou na eclosão, no dia 23/5/1822, de uma revolta que depois ficou denominada a Bernarda de Francisco Ignácio.

Em 10/5, o príncipe regente requisitou ao presidente da junta do governo provisório de São Paulo, João Carlos Oeynhausen Grevembourg, que fosse ao seu encontro na Corte, no Rio de Janeiro. Francisco Ignácio de Souza Queiroz, também membro do governo provisório, instigou a população a não permitir a partida de Oeynhausen, criando um impasse. Oeynhausen permaneceu no cargo de presidente, não cumprindo a ordem de D. Pedro de ir para a Corte.

No dia 25 de maio, D. Pedro expediu decreto e destituiu o governo da Província paulista. Determinou ainda eleições para deputados à Assembleia Geral e Constituinte e a "nomeação de um governo provisório legítimo". Uma carta da mesma data ordenou aos membros da junta governativa de São Paulo que dessem execução às ordens do príncipe. As tropas, vindas de Santos, foram hostilizadas pela população paulistana, e o comandante marechal Cândido Xavier de Almeida e Sousa resolveu recuar. Em 24/7, com a nomeação do próprio Xavier de Almeida para esse cargo e com o retorno das tropas para Santos, a situação na capital normalizou-se.



Com destino a São Paulo



Outro fato grave foi o enforcamento de 12 soldados que se haviam colocado à frente de seu batalhão, em Santos, para pleitear a equiparação de soldos com os praças portugueses. A condenação dos envolvidos causou comoção na população paulista.

Em razão desses fatos, D. Pedro resolveu vir a São Paulo e a Santos, a fim de apaziguar os ânimos. Em decreto de 13/8/1822, determinou que, em sua ausência, a princesa Leopoldina presidiria ao despacho de expediente e às sessões do Conselho de Estado. No dia seguinte, partiu da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, com destino a São Paulo.

Sua comitiva, a cavalo, entrou, no dia 16/8, em território paulista. Passou por várias cidades (Bananal, Areias etc.) e no dia 18, em Lorena, dissolveu o governo provisório, assumindo efetivamente o governo da Província de São Paulo. Chegou, no dia 23/8, em Mogi das Cruzes, tendo nessa localidade se recusado a receber emissários do governo paulista dissolvido e da Câmara, nomeando governador das Armas de São Paulo o marechal Cândido Xavier de Almeida e Sousa.

Em 25/8, entrou na capital, com a comitiva acrescida de vários cidadãos do Vale do Paraíba. Permaneceu alguns dias na capital. Em 5/9, foi a Santos a fim de inspecionar as fortalezas e visitar a família de José Bonifácio, seu ministro de Estado.

De regresso a São Paulo, por volta das 16h do dia 7/9/1822, quando D. Pedro e comitiva encontravam-se no alto de colina próxima ao riacho do Ipiranga, dois cavaleiros foram a seu encontro, o major Antônio Ramos Cordeiro e Paulo Bregaro (hoje Patrono dos Carteiros), como correio-real da Corte, traziam diversas correspondências: cartas de sua esposa Leopoldina; de José Bonifácio; duas de Lisboa, uma de seu pai D. João 6º e outra com instrução das Cortes, exigindo o regresso imediato do príncipe e a prisão e processo de José Bonifácio; e uma de Chamberlain (amigo de confiança do príncipe D. Pedro).

A carta da princesa Leopoldina informava que D. Pedro deveria voltar com brevidade ao Rio de Janeiro, pois as notícias de Lisboa eram péssimas: 14 batalhões iriam embarcar em três naus e que o povo lisboense atribuía expressões indignas contra sua pessoa.

Já a missiva de José Bonifácio dizia que a revolução contra Portugal já estava preparada para o dia de sua partida. Mas, se D. Pedro ficasse teria contra si o povo de Portugal. Até a deserdação, já diziam estar combinada. Bonifácio o aconselhou a ficar e a fazer do Brasil um reino feliz e separado de Portugal.

Após ler estes e outros textos, D. Pedro, tremendo de raiva, perguntou ao padre Belchior o que fazer e este respondeu: "Se V. Alteza não se faz rei do Brasil será prisioneiro das Cortes. Não há outro caminho senão a independência e a separação."

D. Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente, e de repente, disse: "As Cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e de brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações; nada mais quero com o governo português e proclamo o Brasil, para sempre, separado de Portugal". Desembainhou a espada e gritou: "Independência ou Morte!"

Dom Pedro, acompanhado de toda a comitiva, encaminhou-se, para a cidade. À noite, compareceu ao teatro da Ópera, ostentando, no braço, o dístico de ouro "Independência ou Morte", que, às pressas, mandara fazer no ourives Lessa, preso por um laço de fita verde e amarelo. Executou ao piano o "Hino da Independência", música por ele composta.

D. Pedro nomeou, em 9/9, a nova junta governativa da Província de São Paulo, composta pelo bispo diocesano D. Mateus de Abreu Pereira, ouvidor da Comarca Dr. José Corrêa Pacheco e Silva e o marechal Cândido Xavier de Almeida e Sousa. No dia 10/10, deixou a capital, partindo para o Rio de Janeiro.



*Antônio Sérgio Ribeiro, advogado, pesquisador e diretor do Departamento de Documentação e Informação da Alesp.

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