História da repressão ao movimento sindical durante ditadura deve ser resgatada

Comissão da Verdade ouve líderes operários sobre o período
05/04/2013 20:35 | Da Redação: Monica Ferrero Foto: Dulce Akemi

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Waldemar Rossi, Isabel Perez, Amaro, José Ibrahim, Raphael martinelli, Sebastião Neto, Octaviano dos Santos, Chico Bezerra e Maria de Lourdes <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2013/fg123369.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Maria de Lourdes<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2013/fg123370.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> José Ibrahim<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2013/fg123371.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Reunião desta sexta-feira, 5/4, da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2013/fg123372.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> História da repressão ao movimento sindical durante ditadura deve ser resgatada<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2013/fg123373.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva ouviu, nesta sexta-feira, 5/4, o testemunho de diversos líderes operários sobre a repressão ao movimento sindical durante a ditadura. A advogada Rosa Cardoso, da Comissão Nacional da Verdade, informou que será estabelecido um grupo de trabalho para analisar os casos de repressão aos trabalhadores.

Segundo Rosa, os operários "foram a categoria mais perseguida após a ditadura", pois além da repressão política, foram extremamente prejudicados pelas listas negras das empresas, tiveram cassados seus meios de obter subsistência, por terem sido impedidos de trabalhar.

Na mesa coordenada por Sebastião Neto, do Projeto Memória da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo (OSM-SP), diversos líderes sindicais alternaram-se nos depoimentos. Todos foram unânimes em apontar a necessidade de resgatar a repressão ao movimento sindical. "Temos de escrever nosso nome na história por nós mesmos, chega de histórias escritas pelos filhos da burguesia. Temos de desmascarar de uma vez por todas a ditadura civil e militar, pois os empresários estão ainda hoje se escondendo", afirmou Chico Bezerra, do Centro de Memória Sindical do ABC.

O papel da Igreja Católica e de membros do clero, como dom Paulo Evaristo Arns, foi lembrado por militantes como Amaro, que atuou na Juventude Operária Católica (JOC), e que defendeu a divulgação da história do movimento sindical para a juventude atual. Foi também lembrada a repressão a religiosos e a pessoas ligadas às igrejas por apoiarem a luta dos trabalhadores.

Isabel Peres, da Ação Católica Operária (ACO), defendeu a punição dos torturadores e de seus mandantes, e a divulgação da lista negra que as empresas faziam, que prejudicou milhares de trabalhadores. Pediu também um "olhar especial para as mulheres presas e torturadas".

"O golpe de 64 veio para implantar o projeto econômico do capitalismo internacional, e foi capitaneado pelos Estados Unidos. E uma das primeiras medidas dos militares foi cassar as diretorias dos sindicatos e lá instalar interventores, que traíram a classe operária", disse Waldemar Rossi, da Pastoral Operária. A ditadura preferia a cooptação das lideranças, e, quando ela não era possível, partia para a repressão.



Empresas colaboravam com repressão



Os sindicalistas falaram da colaboração de empresas com a repressão. Uma das citadas foi a Aliperti, que, além de ser extremamente poluidora, tinha sua segurança interna feita por um delegado de polícia, que circulava em carro oficial para intimidar os trabalhadores. Também foram apontadas, entre outras, Cimento Perus, Volkswagen e Mercedes Benz.

"Não se fala em punir as empresas que permitiram a entrada de policiais para prender operários", lamentou Maria de Lourdes Nanci, da Associação dos Metalúrgicos Anistiados do ABC (AMA-ABC). Raphael Martinelli, do Fórum de Ex-Presos Políticos, e Waldemar Rossi, da OSM-SP, também comentaram a perseguição contínua a lideranças sindicais.

A greve de 1968 ocorrida em Osasco, que se iniciou e foi violentamente reprimida na metalúrgica Cobrasma, foi lembrada por Octaviano dos Santos, o Tigrão, da União dos Aposentados e Pensionistas de Osasco, que comandou movimento solidário na empresa Brown Boveri.

José Ibrahin, da União Geral dos Trabalhadores (UGT), disse que 30% das vítimas da ditadura eram operários, e isso deve ser resgatado e reconhecido, pois o povo brasileiro ainda sofre com os resquícios da ditadura. Ele lembrou sua atuação como líder sindical em Osasco e sua participação na greve de 1968.

Anízio Batista de Oliveira, deputado estadual pelo PT na Legislatura 1983/1987, que foi trabalhador rural e operário, prestou testemunho de repressão a trabalhadores rurais e grevistas em indústrias como a GM em São José dos Campos.

Ivan Seixas, colaborador da Comissão Estadual da Verdade, lembrou que nesta fase dos trabalhos estão sendo feitos a coleta de depoimentos de testemunhas e vítimas. O próximo passo, no segundo semestre de 2013, será a oitiva dos torturadores e seus mandantes. Isso se dará em colaboração com a Comissão Nacional, que tem poder de convocação.

Na abertura dos trabalhos, o presidente da Comissão da Verdade, deputado Adriano Diogo (PT), divulgou a reinstalação, no próximo dia 9/4, às 11h, da Comissão da Verdade na Câmara Municipal de São Paulo. Também foi feita referência à nota de repúdio das centrais sindicais e entidades de anistiados políticos contra declarações de clubes militares em apoio ao golpe de 1964.

alesp