Depoimentos de filhos e netos de desaparecidos políticos revelam marcas geracionais indeléveis

Casos serão ouvidos durante toda a semana
06/05/2013 23:12 | Da Redação: Daniela Camargo, Monica Ferrero e Silene Coquetti Foto: José Teixeira e Dulce Akemi

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Cecília Capistrano emociona-se durante relato sobre os acontecimentos com sua mãe<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124493.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Amelinha Telles e Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124496.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Auditório Teotônio Vilela durante reunião<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124497.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ivan Seixas, Adriano Diogo, Amelinha Telles, Rosana Momente, Cecília Capistrano e Paulo Fontelles<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124498.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ivan Seixas, Adriano Diogo, Amelinha Telles, Rosana Momente, Cecília Capistrano e Paulo Fontelles<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124499.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Público acompanha depoimentos de familiares de vítimas da ditadura<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124501.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Carlos Eduardo Ibrahim e Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124537.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Carlos Eduardo Ibrahim<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124538.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Carlos Eduardo Ibrahim, Adriano Diogo e Gabriel Ibrahim<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124539.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo e Ivan Seixas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124540.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Cartaz do documentário 15 Filhos<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124542.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Cartaz do documentário Araguaia campo sagrado<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2013/fg124543.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

"O que sofremos é algo invisível. Há uma marca que passa de geração para geração e é difícil entender onde isso me afetou. Não sei como, mas afetou". Dessa forma Cecília Capistrano, neta de Davi Capistrano, militante do PCB e desaparecido em 1974, tentou descrever os efeitos de ter crescido em uma família de militantes políticos presos, torturados e mortos pelo regime militar, no Seminário Verdade e Infância Roubada, realizado dia 6/5 pela Comissão Estadual da Verdade, sob presidência do deputado Adriano Diogo (PT).

Em sua 36ª audiência, a comissão iniciou a reunião com o filme 15 filhos, de autoria de Marta Nehring e Maria Oliveira, com depoimentos colhidos em 1996 de filhos de desaparecidos políticos, alguns dos quais irão participar do seminário, que deve acontecer de 6 a 10/5.

Mães heroínas

Neta de Davi Capistrano (cuja história já foi relatada na comissão), Cecília Capistrano focou seu depoimento na história de sua mãe, Maria Cristina, filha de Davi, que, como o pai, militava no PCB e esteve presa no DOI-Codi. Cecília contou que participou de vários movimentos com sua mãe, incluindo reuniões sobre desaparecidos políticos e anistia, e que hoje atua na comunicação on-line do deputado Rui Falcão (PT). "Vejo-me muito mais como ouvinte do que como atuante", revelou, afirmando que ainda tem muita dificuldade de compreender tudo o que aconteceu.

As dificuldades enfrentadas pela mãe após o desaparecimento do marido, também foram enfatizadas por Rosana Momente, filha de Orlando Momente, militante do PCdoB e desaparecido em 1973. Rosana contou que só soube a verdade sobre seu pai aos 15 anos. Ele entrou na clandestinidade em 1963, um ano após seu nascimento. Sua mãe, com dificuldades financeiras, precisou trabalhar como empregada doméstica, sendo obrigada a colocar a filha em um internato. "A vida no internado é muito solitária. Aprendi o que é depressão na infância", concluiu.

Filho de Paulo Fontelles e Hecilda Fontelles Veiga, Paulo Fontelles Filho, nascido na prisão, relatou o que sua mãe, grávida, sofreu ao ser presa. Foi levada à Polícia Federal onde, diante de sua recusa em dar informações a respeito do marido, ouviu, sob socos e pontapés, que "filho dessa raça não deve nascer". No dia de seu nascimento, Hecilda foi levada ao hospital onde o médico induziu o parto e fez o corte sem anestesia. "Presto aqui minha homenagem a essa guerreira que nunca se deixou dobrar", disse Paulo.

Seminário

O Seminário Verdade e Infância Roubada pretende ouvir 38 depoimentos de filhos e netos dos desaparecidos políticos, durante toda a semana. "Precisamos revelar publicamente estes fatos para que a sociedade brasileira possa decidir o que fazer a partir daí", afirmou o presidente da Comissão da Verdade, deputado Adriano Diogo.

Comissão da Verdade presta homenagem sindicalista José Ibrahim, falecido em 2/5

Presentes defendem revisão da Lei da Anistia

O Seminário Verdade e Infância Roubada prosseguiu na tarde de 6/10. Ao apresentar Carlos Eduardo e Gabriel, filhos do sindicalista José Ibrahim, o presidente da comissão, Adriano Diogo (PT), lamentou sua morte, ocorrida no último dia 2/5, em Osasco.

Carlos Eduardo falou sobre a trajetória política de José Ibrahim, que em 1968, à frente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos, liderou a greve de Osasco, um dos primeiros movimentos de resistência à ditadura militar. Ele foi um dos 15 presos políticos trocados pelo embaixador dos EUA, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969.

Segundo Carlos Eduardo, após a troca, José Ibrahim foi para o Chile, onde conheceu Tereza Cristina Denucci Martins, guerrilheira militante do MR-8 (falecida em 2011) que lá também estava refugiada. O casal fugiu no país andino em 1973, quando houve o golpe de Augusto Pinochet, indo para o Panamá, onde Carlos nasceu. Quando ele estava com 40 dias de vida, a família conseguiu ser recebida na Bélgica, onde ficaram até a anistia. Naquele país, Ibrahim coordenou a Casa Latino-Americana, que lutou pela redemocratização no continente.

A família retornou ao Brasil com a anistia. Carlos Eduardo lembrou do assédio da imprensa a sua casa, em Osasco, e disse que a família foi vigiada até o governo Collor. Ele afirmou que só conseguiu a cidadania nata brasileira, aos 23 anos de idade, após acionar o Estado brasileiro. Até então, tinha uma certidão de nascimento provisória, e concedida apenas quando ele tinha 10 anos de idade.

Carlos Eduardo afirmou continuar o trabalho do pai em defesa dos trabalhadores. Para ele, a maior tortura foi a psicológica, que as famílias e os trabalhadores sofreram. "A ditadura militar foi um câncer, mas até hoje não conseguiram curar o tumor, há muita gente que não quer isso. Os subversivos foram os militares, que subverteram a ordem, nós só queríamos o Estado Democrático de Direito". Estava presente outro filho de José Ibrahim, Gabriel, que, por ser jovem, não presenciou o período da ditadura.

Três irmãos desaparecidos

Clóvis Petit, irmão dos militantes do PCdoB desaparecidos no Araguaia Maria Lúcia, Jaime e Lúcio (cujas história já foi tema de relatos na Comissão estadual da Verdade), relembrou a atuação política deles a partir de 1968, quando tinha 12 anos de idade. Falou da incerteza da família sobre o paradeiro dos irmãos, cuja morte só foi divulgada após a anistia, em 1977. O corpo de Maria Lúcia é um dos poucos identificados no Araguaia.

"Fiquei muito revoltado com a morte de Maria Lúcia, mas houve períodos em que havia alguma esperança de que meus dois irmãos ainda estivessem vivos, escondidos", continuou Clóvis. Essa revolta, disse, ainda não acabou, pois há uma "política de dissimulação, de não punição dos torturadores e assassinos, que ainda estão na máquina pública. Esse governo que está aí já devia ter varrido essa camarilha criminosa que está sustentando", finalizou.

Sua irmã Laura, também presente à reunião, disse, que até a condenação do Brasil pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, os familiares dos desaparecidos não haviam se dado conta de que também eram vítimas indiretas da ditadura. Laura cobrou do Estado brasileiro a devolução dos corpos dos desaparecidos e a divulgação dos nomes dos responsáveis, para que possa haver justiça.

15 Filhos

O documentário retrata o contexto histórico da ditadura militar no Brasil por meio dos filhos de militantes mortos, presos ou desaparecidos, que relatam suas memórias de infância. O documentário é de autoria de Maria Oliveira, que, com apenas um ano de idade foi, presa com sua mãe na Oban; e de Marta Nehring, que morou em Cuba enquanto seu pai treinava para a guerrilha. Ambas depõem no documentário,

Em um dos depoimentos, uma filha afirma que não soube os nomes dos pais por anos, apenas sabia que eram pai e mãe. Em outro relato, o depoente elucida que para ele o resumo de tudo o que acontecia era baseado em um governo ditatorial que entrava nas casas das pessoas e matava todo mundo. Duas irmãs contam que um homem chegou, colocou a arma na cabeça do pai delas e atirou. Já a mãe, quando voltou para casa, estava irreconhecível devido à deformação por conta do espancamento.

Com o intuito de mostrar a ditadura por um ângulo diferente, o documentário 15 Filhos foi filmado em preto e branco e retrata com emoção a história de cada filho, Durante o documentário, os filhos demonstram que quando a inocência de criança é roubada, as consequências que ficam são duradouras.

O documentário está disponível no canal do You Tube no link: http://www.youtube.com/watch?v=u-Lwh9u7ojI

Araguaia Campo Sagrado

O documentário é baseado no relato de camponeses e ex-soldados que estiveram envolvidos Guerrilha do Araguaia. Imagens das ações dos militares no Araguaia e a forma de vida dos camponeses são exibidas para ilustrar os relatos.

Segundo um dos depoentes, o Exército foi treinado não para ser o braço direito do governo, e sim para matar e exterminar os opositores. Muitos moradores, principalmente mulheres, se emocionam ao falar do assunto. Elas contam como tudo aconteceu e como algumas delas perderam seus maridos.

A Guerrilha do Araguaia (1972-1975) aconteceu no sul do Pará, onde se enfrentaram membros do Exército e dissidentes do PCdoB que tentavam derrubar o governo militar a partir das zonas rurais. O acontecido não foi divulgado pela imprensa na época devido à censura.

Com roteiro e direção geral de Evandro Medeiros, o documentário de 2011 narra os acontecimentos da Guerrilha através das lembranças de moradores da região.

Lançamento: 2011 (Marabá - Pará - Brasil)

Direção: Evandro Medeiros

Produção: Labour Filmes Produções

Duração: 50 min

Gênero: Documentário

O vídeo documentário está disponível no canal You Tube no link: http://www.youtube.com/watch?v=8fnvPOruziM

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