Para ex-presidente de centro acadêmico, mobilização de vítimas pode minimizar trotes

Neta do ex-reitor José Goldemberg, Flora Goldemberg presidiu Caoc em 2013
06/01/2015 19:30 | Da Redação: Keiko Bailone Maurício Garcia de Souza

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Sarah Munhoz, Flora Goldemberg, Adriano Diogo e José Bittencourt <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-01-2015/fg166884.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Flora Goldemberg, Adriano Diogo e José Bittencourt<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-01-2015/fg166885.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Flora Goldemberg e Adriano Diogo <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-01-2015/fg166886.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> José Bittencourt (ao microfone) fala no evento <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-01-2015/fg166887.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Flora Goldemberg e Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-01-2015/fg166888.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Flora Goldemberg e Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-01-2015/fg166889.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Em depoimento à CPI que investiga as violações dos direitos humanos e demais ilegalidades ocorridas no âmbito das universidades paulistas, ocorridas nos chamados trotes, festas e no seu cotidiano acadêmico, Flora Goldemberg - que presidiu em 2013 o Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (Caoc) da Faculdade de Medicina da USP (São Paulo) - disse que nunca passou por trotes constrangedores, mas conhece colegas que foram submetidos a esse tipo de arbitrariedade.



"Ninguém é criminoso"

Ela deixou claro, por mais de uma vez, que o Show Medicina promovido anualmente pelos veteranos do clube Atlética é a apresentação de um grupo de amigos que resolvem se reunir durante um mês e meio para mostrar um "espetáculo satírico" sobre os fatos que ocorrem na faculdade. "O intuito é o de mostrar o convívio entre os médicos, não existe agressão direta nem violência; ninguém lá é criminoso". Entretanto, observou a existência de "piadas agressivas e exposição de pessoas de forma inadequada".

Flora esclareceu que o clube Atlética é aberto ao público e muitos pagam anuidade. "É bem utilizado", destacou. O presidente da CPI, deputado Adriano Diogo, adiantou que esse clube funciona em uma área municipal, e que vai pedir a revogação do termo de cessão do terreno.

Respondendo às perguntas de Adriano Diogo, Flora Goldemberg contou que trabalhou dois anos como "costureira" no Show Medicina, cujas apresentações ocorrem no porão do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (Caoc): "é como se fossem dois clubes, um do Bolinha e outro da Luluzinha; as meninas, costureiras, confeccionam roupas e purpurina e não participam do processo criativo do show, não sabem o que acontece lá dentro".

Sobre a última encenação do show medicina, em 2014, em que a protagonista Geni, da obra de Chico Buarque Ópera do Malandro foi usada de forma deturpada para ataques homofóbicos contra os que denunciaram as barbaridades que ocorriam no âmbito da faculdade de Medicina da USP, Flora disse ter ficado ofendida, mas reiterou que "o show não é conhecido pela violência, tem o intuito de ser uma comédia".

O presidente da CPI indagou também sobre os estupros na USP, e Flora Goldemberg disse ter solicitado sindicância para o caso da estudante de medicina Pamela, que ocorreu enquanto estava na presidência do Caoc. Afirmou, entretanto, não ter acompanhado o processo administrativo até o final.

Pacto de silêncio

O deputado José Bittencourt (PSD) perguntou a Flora Goldemberg se havia um pacto de silêncio no Show Medicina para que outras pessoas não tivessem conhecimento dessa organização. Ela aquiesceu, e o deputado concluiu: "então existe coisa errada!".



"Não há mais trotes em São Paulo"

À pergunta de Bittencourt sobre a existência de trotes violentos, Flora Goldemberg respondeu que, após a morte do calouro Edison Tsung Chih Hsueh, há 15 anos, na piscina da Associação Atlética de Medicina da USP, não são mais aplicados trotes em calouros da Faculdade de Medicina de Pinheiros. Relatou, entretanto, ter conhecimento de que essas práticas persistem em cursos oferecidos no interior, como, por exemplo, no campus de Botucatu do Instituto de Biociências da Unesp. Segundo Flora, há trotes como o de amarrar uma corda no saco escrotal do calouro e simular um empurrão de uma árvore; ou a "lavagem cerebral", que consiste em afogamento na água do vaso sanitário.



Moblização contra os trotes

Flora Goldemberg opinou que se os alunos vítimas de trotes violentos ou humilhantes se mobilizassem contra tais atos, conseguiriam minizá-los. Em resposta à deputada Sarah Munhoz (PCdoB), sobre a ingestão excessiva de álcool, Flora Goldemberg afirmou ser normal o uso dessa droga durante os trotes, "mesmo porque nossa sociedade estimula o consumo de álcool entre os jovens". Argumentou que a proibição ao álcool no âmbito das universidades somente motivará os alunos a consumir bebidas em outros locais.

Sobre a vulnerabilidade da mulher durante os trotes, indagação feita pela deputada, Flora Goldemberg opinou que o problema não é a maior fragilidade da mulher, mas sim a conduta antissocial da pessoa que comete a violência.

alesp