Audiência pública debate alternativas à trituração de pintinhos machos

As matérias da seção Atividade Parlamentar são de inteira responsabilidade dos parlamentares e de suas assessorias de imprensa. São devidamente assinadas e não refletem, necessariamente, a opinião institucional da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.
01/07/2024 14:50 | Atividade Parlamentar | Da Assessoria do deputado Carlos Giannazi

Compartilhar:

Deputado Carlos Giannazi <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2024/fg330023.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Nas granjas especializadas na produção de matrizes poedeiras, pintinhos machos são sinônimo de prejuízo. Eles não são viáveis economicamente nem mesmo para a avicultura de corte, porque sua genética não favorece a produção de carne. Por isso, sua existência será breve. No mesmo dia em que ocorre a eclosão dos ovos, os pintinhos machos são separados manualmente das fêmeas e são mortos no triturador.

O Conselho Federal de Medicina Veterinária considera a técnica da trituração humanitária, porque a morte seria instantânea, mas um estudo realizado em 2019 pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) identificou vários problemas nessa prática, como o uso de máquinas com lâminas de rotação lenta ou sobrecarga das máquinas. Isso significa que os animais podem ficar em sofrimento por longos períodos antes de morrer.

Esse foi o foco da audiência pública Alternativas para o Descarte de Pintinhos Machos, promovida na Alesp por Carlos Giannazi (PSOL) em colaboração com a Animal Equality Brasil, em 28/6. Na Assembleia Legislativa, o assunto é tratado no Projeto de Lei 410/2023, de Giannazi. Já na Câmara dos Deputados, pelo PL 783/2024, da deputada federal Luciene Cavalcante (PSOL-SP), que também participou do debate. Ambos os projetos preveem a substituição do descarte de pintinhos pelo uso da tecnologia de sexagem in ovo, que permite o descarte dos ovos antes que os embriões desenvolvam a capacidade de sentir dor.

Crueldade

Segundo Carla Lettieri, diretora-executiva da ONG, não é necessário muito conhecimento científico para determinar se uma prática de manejo é humanitária ou cruel. Basta nos imaginarmos na mesma situação. "Não existe ser humano na face da terra que imagine a sensação de ser triturado e fique feliz com isso", resumiu.

Em contrapartida, Carla comemorou o fato que, na Europa, essa situação já está começando a mudar, já que a proibição do descarte de pintinhos está sendo discutida no Parlamento Europeu e em vários parlamentos nacionais, sendo já uma realidade na Alemanha e na Itália. "Existem várias tecnologias para a sexagem in ovo, mas as mais promissoras são a espectroscopia e a análise endocrinológica", disse, observando que ambos os métodos já são implantados em escala industrial.

Carla ainda citou uma incerteza da ciência em relação ao limite máximo no qual haveria garantia de que o embrião não sentisse dor, se 7 dias ou 15 dias. "O estudo mais recente foi feito na Alemanha por meio de eletroencefalograma, e só se constatou atividade cerebral a partir do 13º dia. Assim, qualquer processo de sexagem deveria ser feito até o 12º dia. Entretanto esse estudo ainda não passou pela revisão por pares, por isso não pode ser considerado uma verdade científica", informou.

Com relação ao impacto econômico do uso dessas tecnologias na produção granjeira, a diretora da Animal Equality Brasil afirmou que o custo extra a ser repassado ao consumidor, em estimativa elaborada pelas empresas alemãs que oferecem essas tecnologias, seria de apenas R$ 0,03 por ovo, valor perfeitamente assimilável pelo mercado brasileiro.

Tecnologias

A veterinária Vânia Nunes, diretora-técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, afirmou que a sexagem in ovo ainda precisaria de mais desenvolvimento para que fosse de fato empregada em grande escala em um país como o Brasil. Por isso ela defende que haja pressão social junto às universidades no sentido de que se desenvolvam pesquisas para atender aos anseios da população, não apenas as demandas da indústria.

Com relação a um problema similar que ocorre na indústria do leite, já existe uma tecnologia que poderia ser utilizada imediatamente. Nas fazendas que se dedicam à criação de vacas leiteiras, os bezerros machos ou são abandonados à própria sorte ou, em uma cadeia produtiva mais recente, são destinados ao mercado de carne de vitela, quando são abatidos antes das 20 semanas de vida. Essa prática, entretanto, apenas minimiza o prejuízo advindo do nascimento de um filhote macho. Como a inseminação das vacas já é feita de forma artificial, a sexagem desse sêmen evitaria o sofrimento animal e ainda traria lucro aos produtores.

No encerramento da reunião, Carlos Giannazi considerou que, apesar de toda a resistência das bancadas do agronegócio no Congresso Nacional e nas Assembleias estaduais, a mudança da legislação ocorrerá inexoravelmente quando a população se conscientizar sobre o problema. Ele comparou as pautas em defesa dos animais com a lei antifumo proposta pelo então governador José Serra. "O lobby da indústria do tabaco foi muito forte, mas a população já estava conscientizada sobre os malefícios que o cigarro traz, inclusive para os fumantes passivos. Surgiu um novo estágio de entendimento", comparou.

O relatório da Animal Equality "Alternativas para o descarte de pintinhos machos: tecnologias de sexagem in ovo" pode ser baixado no seguinte endereço: drive.google.com/file/d/1N4ueVZHRtBUaqy8NFQWwKyJDdIbdIwOn/view

alesp